No caso mediático do tratamento das gémeas brasileiras com o medicamento mais caro do mundo, pago pelos contribuintes portugueses, no que parece ter sido um processo de claro favor e favorecimento e de contornos ainda em investigação, ontem o presidente da república veio dar explicações, desdizendo o que antes havia dito, ou seja, que afinal houve contactos com o seu filho, Nuno Rebelo de Sousa, sobre o tema. Desvalorizou e disse ter encaminhado o assunto como o faz em relação em milhares de outros pedidos mas isso não o iliba de ter estado envolvido. E porque é que o filho abordou o pai, presidente, nesse assunto? Certamente porque sabedor de que isso poderia abrir portas e desbravar caminhos na tal autorização de nacionalidade e dela o tratamento. Ou somos todos anjinhos, puros e inocentes?
Não me convenceu com as suas explicações e nem parece ter convencido os analistas porque no essencial ficam ainda muitas dúvidas que esperemos que o Ministério Público venha a esclarecer. Todavia, será mais um caso em que dará em coisa nenhuma, e que coisa e tal foram cumpridos todos os requisitos e que coisa e tal foi tudo limpinho, limpinho, e que uma vez mais quem paga (pagou) as favas é o Zé Contrbuinte. Andamos para aqui a adiar consultas, exames e tratamentos por meses e anos, tantas vezes contribuindo para agravamento de doenças e mesmo mortes e depois vem gente estrangeira, com bons padrinhos e intermediários, beneficiar de processos apressados de nacionalidade para colher tratamentos onerosos, literalmente de milhões de euros.
Não está em causa, obviamente, o julgamento moral da necessidade e importância de tratamento das bebés gémeas mas a forma como administramos os nossos recursos em benefício de estrangeiros ou portugueses por via administrativa. Quem dera que pudéssemos pagara tratamentos de milhões a todos os doentes do mundo, mas isso é uma impossibilidade, a começar pelos nossos próprios. Haja, pois, bom senso e sentido da realidade.
Neste contexto, de processos pouco claros ou mesmo obscuros, não temos de todo alguém em quem confiar e mesmo o presidente que deveria ser uma figura de confiança a toda a prova, mesmo acreditando que sem responsabilidade directa, mostra que é apenas, mesmo que usado, mais um elo da importância de se ser importante e capaz de mexer uns cordelinhos ou lubrificar os mecanismos que decidem os processos. Afinal, a mola impulsionadora, o princípio de todos os actos de corrupção e tráfico de influências neste nosso pobre país.
Em resumo, há sempre alguém da esfera pessoal e política a procurar tirar partido do nosso presidente e ser-lhe agradável. Foi nesse sentido, aqui há uns meses atrás, que alguém com ligações ao Governo PS, no caso o ex-secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Mendes ao pedir à CEO da TAP, uma tal de demitida Christine, para adiar um voo de Moçambique que tinha como passageiro o Presidente da República - que, alegadamente, precisava de ficar mais dois dias em Maputo e com a justificação "...Ele tem sido um apoio para nós em relação à TAP, mas, se o humor dele se alterar, tudo fica perdido. Uma palavra dele contra a TAP/o Governo e ele empurra o país todo contra nós. Não estou a exagerar: ele é o nosso principal aliado político, mas pode transformar-se no nosso pior inimigo", respondeu Hugo Mendes.
Como se vê, o que não falta (faltava) no Governo do PS, era gente disposta a agradar ao presidente Marcelo. Vai daí este caso do tratamento milionário das gémeas brasileiras, nacionalizadas á pressa, pode ter sofrido da mesma "boa vontade".