Ele há dias em que damos connosco próprios a questionar do motivo do sentido da nossa existência, senão na vida, pelo menos naquele instante, tal é o peso da indiferença e o vazio que se sentem. Se estamos aqui já pensamos em estar ali, mas se lá chegados logo uma vontade de estar acolá e mais além e assim em todos os lugares e em lugar nenhum ou, numa divina ubiquidade, a de estar em todos simultaneamente. Mesmo se nos dispomos a fazer algo, físico ou mental, logo surge uma vontade de nada fazer ou porque isso implicará inspiração que não brota, forças que não sentidas ou então por falta da faísca que dá sentido e finalidade às coisas.
Se o tempo está com fraca cara, chuvoso e frio, a coisa quase se justifica à modorra e imobilidade, mas se o tempo está bom, ameno e soalheiro, ainda atentamos em dar uma caminhada, um passeio ou simplesmente ir ao jardim ou à horta ver as rosas a desabrochar ou a fruta a crescer, mas nesses momentos tudo nos parece na mesma e a natureza para nos maravilhar precisa de tempo, noite, dias, semanas e meses e não temos a paciência necessária para a ver dar frutos assim num repelão só porque nos apetece.
Há, de facto, dias assim, em que mesmo nada nos doendo nem preocupando, sente-se um vazio no corpo e na alma ou, então ao contrário, um sentimento de que estamos cheios de nada.