Já vai longa a jornada.
A tua pele da frescura juvenil
Foi arada em sulcos pelo tempo
E na negrura dos cabelos já neva
Num anúncio de Inverno.
Também me verás assim,
Já sem o viço da mocidade,
Os olhos mais turvos
E o cantar do pisco mais difuso.
Mas é bom que assim seja,
Porque não há começo sem fim,
Primavera sem Inverno,
Ou vindima sem mosto.
Mas há ainda caminho a fazer,
Com curvas a esconder,
Como cortina do palco da vida,
O que falta percorrer,
Um dueto a representar,
Até que o pano caia.
Vais, pois, seguindo,
Num corpo já dolente,
Com o passo já cansado,
Mas contigo vou indo,
Nem atrás, nem à frente,
Tão somente, a teu lado.