30 de março de 2024

Compasso da Páscoa em Guisande


Nem sempre consigo tal premissa e, como a maioria, por vezes também não resisto à tentação de partilhar banalidades, lugares comuns e pingarelhos, mas regra geral procuro que qualquer coisa que aqui publique e partilhe, tenha algum significado, sumo, como se espera de uma laranja. 

Bem sei que a maioria está a sintonizar outra frequência e quando temos às costas uma mochila carregada de anos e de experiência de vida, corremos o risco de andar a falar para as paredes ou para surdos-mudos, tal é o desfazamento entre gerações, níveis de cultura e diversidade de interesses. Mas quanto a isso não há nada a fazer, a não ser remar contra a maré ou navegar contra o vento. Mas isso tem custos, porque desgasta a embarcação, cansa o navegante e demora-se a chegar a bom porto e quando, por adversidade, não se naufraga na viagem.

Neste contexto e pensamento, para a Páscoa deste ano de 2024, que será fria e molhada, deixo de lado os habituais clichês dos coelhinhos, pintainhos, ovos e amêndoas. Tudo coisas boas e ternurentas, mas de tão generalizadas, enjoativas e com ar de banalidade.

Em alternativa partilho uma fotografia antiga, de meados da década de 1950, com o compasso pascal na nossa freguesia. Na cena, o saudoso  Pe. Francisco, com o seu barrete, alva branca de meio corpo sobre a batina preta, estola bordada sobre a alva, à sua direita o juiz da Cruz, o Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva, atrás, certamente já cansado, apesar de ser homem duro e de trabalho, o Ti Domingos Lopes, que tinha a tarefa de carregar a sua cruz e a do juiz, de quem era caseiro. Ainda, à esquerda do pároco, com a caldeirinha da água benta, um quarto elemento que não consegui ainda identificar, mas que talvez os mais velhos que eu e que por aqui espreitem, consigam reconhecer.

Como se vê, pelo menos neste compasso não havia campainha, a não ser que venha debaixo da opa do juiz da Cruz ou que seja quem tirou a fotografia. 

Recorde-se que por esses tempos, e durante muitos mais anos, a visita pascal na nossa paróquia era feita apenas por uma cruz, pelo que o percurso durava todo o dia e até altas horas da noite quando terminava no lugar de Cimo de Vila, na casa do Ti Joaquim "da menina" já a descer o monte do Viso.

A foto foi colorida artificialmente, apenas para dar um pouco de vivacidade ao quadro. Reconheço o local, então caminho estreito  mas hoje rua pavimentada, mas fica como teste para quem quiser adivinhar.

Por tudo isto e com isto, desejo aos meus visitantes e amigos, incluindo os que interessados e de boa fé andam pelo meu Facebook, votos de uma feliz e santa Páscoa! Bem hajam!