Confessou-se Torga, o poeta,
Como pecador que era
No bom e no mau da vida,
Ambos ao leme da sua nau,
Mareando em deriva.
Também eu, pobre pecador,
Aflito, me confesso contrito,
Do pecado herdado
E construído
Mas nunca consentido.
Mas se para o perdão pleno
Necessário é o arrependimento,
No meu entender pequeno,
De tão pouco provento
Estou condenado,
Porque não me arrependo,
Do que possa ter pecado
Por conta do meu viver,
De animal, institivo,
Gravado à força de cinzel,
Qual cobre derretido,
Moldado em forma de sino
Que na torre a mesma nota replica,
Numa vida presa, que implica
Aceitar a cantiga do destino.