28 de março de 2024

Eu, pecador, me confesso


Confessou-se Torga, o poeta,

Como pecador que era

No bom e no mau da vida,

Ambos ao leme da sua nau,

Mareando em deriva.


Também eu, pobre pecador,

Aflito, me confesso contrito,

Do pecado herdado

E construído

Mas nunca consentido.


Mas se para o perdão pleno

Necessário é o arrependimento,

No meu entender pequeno,

De tão pouco provento

Estou condenado,

Porque não me arrependo,

Do que possa ter pecado

Por conta do meu viver,

De animal, institivo, 

Gravado à força de cinzel,

Qual cobre derretido,

Moldado em forma de sino

Que na torre a mesma nota replica,

Numa vida presa, que implica

Aceitar a cantiga do destino.