Vão longe os tempos em que o carteiro nos merecia tanta confiança quanto o médico ou o padre.
Como sou rapaz que já não vai para novo, ainda sou do tempo em que o carteiro andava de bicicleta e quando passava ao fundo do lugar, o toque da sua corneta chamava a gente que esperava carta. Era assim diariamente e quase sempre com pontualidade.
Mas isso já foi há muito, num tempo em que havia a mania das pessoas serem sérias e responsáveis cumprindo a sua profissão, sobretudo quando implicavam serviço público, com honra e sentido de dever.
Hoje em dia todos sabemos como é que andam os correios, o CTT, numa balbúrdia tal que já nem sabemos se é carne, peixe ou nem uma coisa ou outra. Terá dono? Quem manda? Quem responde pelo reles serviço prestado?
Por conseguinte, pelo menos por cá, anda tudo ao sabor do vento e a correspondência vai sendo distribuiída conforme dá mais jeito. Assim, não raras vezes, alguma dela chega tarde e a más horas e mesmo com prejuízo. Ainda agora, nesta semana, a minha esposa recebeu uma convocatória para um rastreio já depois da data. Mesmo para a entrega de uma carta registada não se perde tempo a verificar se está alguém em casa. É mais fácil e rápido e colocar o aviso de que terá que ser levantada no posto, com a fácil justificação de que ninguém atendeu.
Certamente que para além de um eventual mau profissionalismo, no geral os próprios carteiros são vítimas do sistema e desorganização da empresa, que não lhe dá as devidas condições de trabalho e de acordo com as responsabilidades, porque não raras vezes andam assoberbados de correspondência para circuitos extensos e horários apertados.
Com frequência há relatos de atrasos nas cartas de cobrança de serviços, como dos telefones, da água e electricidade, levando, por falta de pagamento atempado, à aplicação de coimas, ameaças de cortes e de todos os incovenientes para pagar depois dos prazos.
Uma autêntica balbúrdia e obviamente que não há como fazer queixa porque é causa e tempo perdidos. Posto isto, e para além da questão da desorganização dos postos, que vão sendo suprimidos ou mudados de poiso, o carteiro já não toca duas vezes e na maior parte das vezes já nem toca vez nenhuma.