O Domingo foi de eleições. Mais umas, no sítio do costume e quase com as mesmas caras e com igual objectivo de sempre, o de fazer de conta que decidimos o nosso destino. Mas em rigor não decidimos coisa alguma e, conforme já se percebeu pelos resultados, será uma questão de deixar passar a Páscoa, as férias, o Verão, e depois seguir-se-á mais um acto, tão teatral quanto todos os passados e futuros.
Já nada é como dantes. Como nas relações na cama, se a coisa for muito frequente, entra-se na rotina e perde-se-lhe a conta, o entusiamo, e para voltar a aquecer é preciso refrescar. Um trocadilho, um paradoxo, mas afinal como um bom alfaiate a tirar-nos a medida ao corpo para nele caber um fato, as coisas são mesmo assim e hão-de continuar como tal. Somos meros manequins de prova.
Até o dia com chuva e cinzento ajudou a este melancolismo, sem entusiasmo, e a noite encerrou-se sem foguetes nem caravanas a passear entusiasmo tolo ou sentido. Nas televisões um dejá-vu, os habituais lugares comuns, todos a procurarem afirmar que o copo ficou meio cheio porque vê-lo meio vazio é admitir perdas e derrotas. Todos agem como se fossem vitoriosos e até quem não foi a votos foi tido e achado como vencedores ou perdedores.
O costume, nada de novo. Como diz o Fernandinho, mesmo num dia nublado e com chuva o sol brilha; nós é que não o vemos. Talvez por isso a clássica CDU teime em resistir até à extinção, com um PCP já sem defesa pela foice e martelo gastos, ferido a cada cajadada eleitoral, mas a prometer luta e defesa dos trabalhadores, dos valores de Abril e contra a direita reaccionária, ou lá o que isso seja, como se ainda no ar o odor do Verão Quente e das tropelias do PREC. Mas nisso, reconheça-se-lhes, são coerentes, e uma formiga há-de sempre fazer comichão ou cócegas nos tomates de um elefante.
Na próxima, quem sabe se não votarei no Raimundo, que até me parece boa pessoa. Afinal, como dizia o brasileiro Tiririca, "pior do que está não fica". Perdido por perdido...
Viva a liberdade e a democracia que, desde quase há meio século, nos permitem sonhar que para a próxima é que há-de ser. Afinal até um relógio parado tem horas certas duas vezes ao dia. Quem sabe se não será na próxima?