As gentes do campo, simples,
Não saberão o que é poesia,
E dos poetas desconfiarão
Como de pessoas estranhas,
Sem saberem o que vendem,
A soltar, presumidos,
Palavras, que não entendem,
Vazias de sentidos.
E, todavia, nessa gente do campo,
Tudo é poesia e funda a prosa
No que fazem, dizem e cantam,
No colher e cheirar uma rosa,
Nas preces que ao céu levantam.
Nos olhares mais absortos,
De paz ou intempestivos.
Não há tempos mortos
Mas de poesia, bem vivos.
O pão semeado,
A espiga colhida,
A terra ressequida
A ser regada.
Até o pasto colhido
Em Domingo, como pecado,
Tem poesia e sentido
Porque a matar a fome ao gado.