26 de março de 2024

Poetas do campo


As gentes do campo, simples,

Não saberão o que é poesia,

E dos poetas desconfiarão

Como de pessoas estranhas,

Sem saberem o que vendem,

A soltar, presumidos,

Palavras, que não entendem,

Vazias de  sentidos.


E, todavia, nessa gente do campo,

Tudo é poesia e funda a prosa

No que fazem, dizem e cantam,

No colher e cheirar uma rosa,

Nas preces que ao céu levantam.

Nos olhares mais absortos,

De paz ou intempestivos.

Não há tempos mortos

Mas de poesia, bem vivos.


O pão semeado,

A espiga colhida,

A terra ressequida

A ser regada.

Até o pasto colhido

Em Domingo, como pecado,

Tem poesia e sentido

Porque a matar a fome ao gado.