7 de julho de 2024

Postal do dia - Que não apenas pão e circo

 


O artista musical e divulgador do cante alentejano, Buba Espinho, actuou ontem nas Caldas de S. Jorge, com concerto integrado no Caldas Sabor & Arte, um evento a que não encontrei classificação, se festival, se feira ou outra coisa qualquer, mas seguramente dentro da categoria de comes-bebes com música e outros tópicos.

Vi apenas parte e gostei. Obviamente que conhecia o estilo e a qualidade e fiquei com inveja de não termos um artista com essa qualidade no Corga da Moura ou mesmo na Festa do Viso.

Reconheço, contudo, que não é coisa para jovens e adolescentes porque por ali não há batidas, spunk, spunk, barulho a rodos com decibéis a rebentar a escala e os tímpanos (como aconteceu no Corga da Moura)e gente que para ter assistência a potes não basta saber vestir ou cantar. Mas isso é outra história e de diversidade também se faz a diferença, goste-se ou não.

Apesar disso, Buba Espinho e os seus excelentes acompanhantes ajustam-se melhor a um ambiente de intimidade, se possível em espaço fechado. Assim, foi o que foi. Gente bastante, sobretudo de meia idade para cima, mas longe da que arrasta um qualquer artistazeco do hip-hop ou coisa parecida. Além disso, frio, muito frio, pouco convidativo a estar, mesmo a beber, do que muito vivem as tasquinhas. Mas é velho e sabido que a zona envolvente ás Termas e ao Uíma sempre foi de temperaturas de frigorífico.

Hoje ao início da tarde regressei ao espaço e voltei a gostar, mesmo que ainda sem grande movimento.

Apesar de tudo, já numa apreciação meramente prática e analítica, espanto-me dos valores que as entidades, sejam Juntas de Freguesia ou Câmaras Municipais, gastam neste tipo de eventos, trazendo artistas que naturalmente não vêm pelo modesto preço de um rancho folclórico. E esta realidade não é, naturalmente, exclusiva do nosso território, mas também de tantos outros. Por princípio não é negativo, claro que não, e além disso já vem do tempo da velha Roma a máxima de que a populaça anda feliz e calma quando se lhe dá pão e circo. Mas que se gastam balúrdios de dinheiro nestas coisas, nestes programas musicais, gasta-se. 

O problema nestas coisas, paradoxo ou contradição, é verificar que na maior parte das freguesias onde há esses elevados gastos, há ruas com pavimentos em reles estado, valetas, bermas e espaços públicos por limpar e obras e melhoramentos por fazer ou eternamente adiados. Ainda hoje, precisamente antes de voltar ao Caldas Sabor & Arte, passei pelo Parque da Várzea em Pigeiros, nas margens do mesmo Uíma, e é deplorável a falta de limpeza com lixo espalhado por todos os cantos, a afastar quem queira pique-nicar ou apenas saborear as sombras e pacatez bucólica do local. Fugi dali!

Precisamos, pois, de tudo, incluindo destes momentos de confraternização, de lazer e entretenimento, mas importa não perder o rumo ao bom senso e equilíbrio e não privilegiar apenas o pão e circo porque se considera que isso em termos eleitorais poderá  render frutos É preciso mais, bem mais, que isso.

Haja, pois, comedimento e tudo no ponto adequado. Sem espinhas!