3 de setembro de 2024

Sobrinca - Uma época, mil memórias

 


Terá sido fundada em 1963 por Fernando Ferreira e Américo Magalhães Ferreira, na freguesia de Caldas de S. Jorge, Santa Maria da Feira.

Implementada depressa cresceu e a Sobrinca - Brinquedos e Utilidades para Bebés, L.da, chegou a ser considerada uma das principais fábricas nacionais especializadas em artigos de puericultura e brinquedos.

Nas suas instalações industriais localizadas no lugar de Azevedo eram produzidos parques infantis, cadeiras de refeição, berços, carrinhos de bebé, andarilhos, bicicletas, triciclos e carrinhos a pedais, etc, etc.

Em 1976, os seus produtos conheceram a implementação dos plásticos nos seus diferentes artigos, autonomizando-se com a criação da IBOPAL na qual se fabircavam as peças e componentes de consumo própio.

Já na década de 1980 foi constituída IBEROBRINCA com objectivos comerciais de exportação e importação.

Na continuidade do seu crescimento, por meados da década de 1990 surgiu a SOBRINCA S.G.P.S, que passou a gerir todas as empresas criadas no âmbito da marca.

Para além do fabrico e comercialização de brinquedos e artigos para crianças, chegou a entrar no mercado de produção de mobiliário em madeira e também com participações no sector imobiliário.

Todavia, pelo início da década de 2000, com modelos de gestão duvidosos, passos maiores que as pernas e dificuldades em acompanhar as mudanças no sector e nos mercados, a empresa entrou em crise, surgindo como tábua de salvação a sua venda mas esta não resultou e pouco tempo depois deu-se a insolvência e falência da empresa e o fim de uma marca que já tinha uma história de quase meio século.

A Sobrinca foi um factor de desenvolvimento, mesmo que inicialmente com práticas deploráveis, que de resto eram comuns a outras empresas, como lançar para a rua e linhas de água os esgotos químicos das suas instalações, certo é que deu emprego a muita gente, mesmo a famílias, nomeadamente da freguesia de Guisande, que sobretudo pela década de 1970 e 1980 terão sido várias dezenas.

O certo é que passou à história e quem lá trabalhava teve que encontrar alternativas de emprego. As instalações estiveram muito tempo devolutas e de há alguns anos para cá foram requalificadas em parte e convertidas em espaços comerciais, nomeadamente de venda de material eléctrico, de pichelaria, materiais de construção civil e peças auto.

A Sobrinca, permance, todavia, como memória de um importante marco social da freguesia das Caldas de S. Jorge mas também de Guisande e outras freguesias vizinhas, pelo elevado número de empregos que facultou num tempo de transição da actividade agrícola de subsistência para o emprego industrial.

Complementando:  Nesses tempos, e sobretudo pela década de 1970, era ver os vários guisandenses a pé, ida e volta, a caminho da Sobrinca. Também era comum o pessoal da casa, esposa ou filhos, irem levar o almoço aos trabalhadores, pelo que procuravam encontrar-se a meio caminho, ali entre os lugares da Leira e Azevedo. De toda essa gente a caminho de e para a Sobrinca, talvez os mais emblemáticos tenham sido os cunhados Zé Carrêlo e Zeferino Gomes, que tantas vezes, em passo ligeiro, víamos a passar. Nesses tempos não se caminhava por desporto ou lazer mas mesmo por obrigação. Tinha que ser. E no caso da Sobrinca, a viagem até era curta, mas tantos e tantos que diariamente íam e vinham, de e para S. João da Madeira. Eu próprio, enquanto não comprei a minha própria bicicleta, durante vários anos ía e vinha a pé de junto da Capela do Viso para o fundo das Caldas de S. Jorge, por isso um pouco mais longe do que para a Sobrinca. Para almoçar subia até próximo do lugar de Azevedo ao encontro de minha mãe que diariamente nos levava o almo (a mim e a meu irmão). Resta acrescentar que tudo isso em idade de criança, sozinho, de noite, fizesse chuva ou sol. Disto não acreditarão os mais novos. Pois não!