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18 de dezembro de 2024

Dia negro

Sabem os mais velhos, com idade e traquejo suficientes, que a vida é mesmo assim: um carrossel que, em círculo ou em oito, vai e vem. Tanto se nos afasta da vista o belo alazão branco como, num instante, volta a passar defronte do nosso olhar, garboso na sua crina em caracóis e no seu rabo ondulado.

Este traquejo, este viver, dá-nos, de facto, um outro olhar sobre as coisas e as pessoas: aqui, com o distanciamento cauteloso; ali, como se com uma lente de aumento, trazendo à relevância o mais ínfimo pormenor ou o mais recôndito defeito.

Deste modo, ensinados e precavidos – tantas vezes à custa de quedas e pancadas –, já não é com surpresa que tomamos conta de certas coisas ou novidades trazidas nos jornais ou assobiadas pelo vento. As íntimas, que dizem respeito só a nós, e também as públicas, por serem do interesse de todos ou, como se costuma dizer, da comunidade.

Assim sendo, e mais não digo, porque quem não aprendeu que aprenda; se novo, há-de ter tempo para ser ensinado, pois a vida nisso é uma disciplinadora mestra.

Por agora, é tempo de desencanto, sobretudo de desapontamento – mas não de surpresa. Desapontamento, porque, apesar da experiência e do aviso, andamos sempre com uma réstia de esperança de que as coisas e as pessoas ainda não sejam assim tão previsíveis, e de que valores como a palavra e a honra ainda valham mais que dez-reis de mel coado.

A História dá-nos conta de datas e factos, exulta os heróis, mas também lembra os traidores, os oportunistas e os vendidos. Haverá sempre Pétains e Régims de Vichy a apoiar e a colaborar com os invasores ou Miguéis de Vasconcelos a porem-se a jeito para serem atirados abaixo da varanda. Noutros tempos, sim, mas, por ora, não haverá é ninguém com “tomates” para o fazer, para limpar a casa. 

Afinal, há também aqueles que trocam de camisa, recuam das trincheiras e, como mulheres da vida, abrem as pernas e, de cócoras, vendem-se facilmente a quem lhes pague ou adoce a boca.

Cada um que faça e julgue como bem entender, mas por mim reservo-me à indiferença aos que tudo fizeram para o desfecho contrário às regras do respeito por quem pretendia seguir por si o seu caminho. São vários os que ficaram muito mal neste retrato. Importa não esquecer quem foram.

Não pode valer tudo!

22 de novembro de 2024

Louredo - Freguesia irmã?


A freguesia de Louredo é antiga. Pertence ao concelho de Santa Maria da Feira mas já pertenceu ao de Arouca.

Actualmente, no mesmo processo castrador, faz parte da mesma união de freguesias. Dizem que entretanto ambas as freguesias vão voltar a ser elas próprias, mas ver para crer.

De todas as freguesias vizinhas de Guisande (Lobão, Gião, Louredo, Romariz, Pigeiros e Caldas de S. Jorge), tenho para mim que Louredo é a mais parecida com Guisande, tanto em muitas das características do seu território, exceptuando o enclave de Parada, pela sua dimensão quase uma freguesia à parte, mas também pelas suas gentes, forma de ser e estar.

De resto, mais que às demais vizinhas, Guisande sempre teve uma ligação muito próxima à freguesia de Louredo. Pode esta minha consideração sofrer da influência de eu ter nascido e vivido em Cimo de Vila e por isso mais próximo de Louredo, e porque em centenas de vezes em criança percorri aqueles caminhos que levavam a Cimo de Aldeia, ao Codeçal ou ao Convento, bem como na partilha comum dos matos e pinhais do monte de Mó e dos férteis campos junto à ribeira das Corujeiras.

Assim, ia-se à missa e à festa a Vila Seca, à festa do S. Vicente, que se dizia de Ferreira mas que afinal era o Mártir, ao Ti Florentino consertar as bicicletas, ao alfaiate do Concharinha mandar fazer calções ou calças ou nelas aplicar umas quadras, ao alambique a Tozeiro entregar bagaço e trazer aguardente, etc, etc.

Já em adolescente eram por lá alguns serões e as desfolhadas por Louredo eram mais generosas e de raparigotas sorridentes. Até quando as maleitas batiam à porta e entravam no corpor, passava-se por Louredo a ir ao Dr. Alexandrino no Carvalhal.

Mesmo na igreja paroquial de Louredo há ali obras realizadas por guisandenses e até a residência paroquial terá sido mandada fazer, por 1903, por Custódio António de Pinho, avô paterno do ainda pároco Pe. Eugénio Pinho, este filho de António Baptista de Pinho, que era da Casa da Quintão, aqui de Guisande. Esta casa abastada tinha noutros tempos muitas propriedades dispersas por Louredo.

Concerteza que um freguesia tem sempre ligações de várias naturezas às freguesias vizinhas, incluindo familiares, porque uns e umas casam-se com outros e outras, mas mesmo que sendo apenas a minha percepção, e sob um ponto de vista de tempos já passados e não tanto na actualidade, creio haver, de facto uma ligação mais homogénea a Louredo.

Já de Lobão, as relações nunca foram por aí além, porque estas sempre com um sentimento escusado de grandeza e bazófia, com muita gente boa mas no geral com características de pouca empatia pela vizinhança. De lá, em debandada de pinhoeiros e jericos e mulas, subiam ao nosso monte de Mó “colher” tudo quanto eram pinhas e com fama de levar outras coisas pelo caminho de regresso. Rivalidades e alguns pontos acrescentados aos contos, concerteza, mas nunca houve fumo sem fogo.

De S. Jorge, talvez pela humidade da “cova” e do cheiro a podre das suas águas, como se dizia, a coisa nunca foi melhor, no geral empertigados e pouco dados a reconhecer os valores dos demais e em muito daí a recusa da freguesia em tomar parte com ela aquando da formação das uniões de freguesia, preferindo-se Lobão numa de “mal menor”. A forma abusiva e de desconsideração como considera de seu a parte do que é o lugar de Azevedo, não reconhecendo as evidências de limites e registos, surripiando marcos que definiam os limites, também não ajudou em tempos mais recentes a uma melhor simpatia.

Gião, porque os acessos directos quase não existiam, e pelo meio, ali pelos Marinhos, falava-se de poiso de quadrilhas de assaltantes, apenas ali se ía por Maio à festa da Senhora da Hora ou forçadamente a caminho de Canedo ao médico local e pouco mais.

Romariz, boa e antiga terra, de castro e capelas, talvez porque os caminhos eram sempre a subir, também nunca vingou uma forte ligação e se alguma, com mais importância, talvez a Duas Igrejas.

Pigeiros, tem também muito das características de Guisande e Louredo, e durante muitos anos até partilhamos o mesmo pároco e padres, mas a ligação formal também nunca foi muito substancial, talvez mais do lado de Estôze por ser lugar próximo. Apesar disso dali resultaram fortes ligações familiares como da família Costa e Silva e Gomes Leite, que em Guisande se uniram a famílias abastadas na Casa da Quintão, à família leite Resende (Casa do Dr. Inácio) e a um ramo da Casa do Loureiro, acrescentando hectares de campos e pinhais.

Em todo o caso, os tempos mudaram, rasgaram-se estradas e caminhos a unir todas as freguesias e aos poucos os valores, identidades e características que eram específicas e intrínsecas das diferentes populações, foram-se dissipando e hoje já quase que somos todos farinha do mesmo saco, peças moldadas do mesmo barro, com todas as virtudes e defeitos comuns.

Todavia, é sempre importante alguma mistura social e cultural e da diferença resulta a riqueza da diversidade. Temos, pois, os vizinhos que temos e eles têm-nos a nós..

18 de novembro de 2024

Quase dois anos depois, oxalá que sim!


A Câmara Municipal de Santa Maria da Feira tem em andamento um programa de requalificação de parques infantis e polidesportivos no concelho. Nesse âmbito o rinque polidesportivo de Trás-os-Lagos, em Casaldaça - Guisande, junto à habitação social, tem estado em obras. De resto, já escrevi sobre o assunto há quase dois anos, aqui. Reitero agora tudo o que então opinei.

Estando agora a ser concretizada,  é uma medida interessante e importante, face ao abandono e degradação do espaço e de algum modo surpreendente porque por estas bandas as obras e apoios são coisas raras. De acordo com o anúncio público, o valor base do procedimento do concurso rondou os 182 mil euros o que é significativo.

Todavia, importa saber se o espaço vai ser devidamente usufruído e aproveitado e por quem. Há algum grupo ou associação que o vá dinamizar e dele usufruir com actividades diárias ou semanais? Ou, depois de estreada a renovada instalação voltará ao abandono ou a uma utilização meramente residual e novamente como estendal?

Oxalá que sim, que seja devidamente aproveitado, sendo que com a actual dinâmica dos grupos e associações da freguesia, quase inexistente, será um pequeno milagre se tal vier a acontecer. Além do mais, ninguém gosta de jogar debaixo de chuva ou a coberto da noite. Mas deseja-se quem sim, até para não ser dinheiro esbanjado! Que o impulso de coisa nova ou renovada seja gerador de um interesse na sua utilização, é o que se deseja! Quero acreditar que a utilização passará pelo Guizande F.C.. veremos em que moldes e se haverá rentabilidade e aproveitamento justificado do espaço.

Quanto às obras previstas pretende-se uma manutenção geral à respectiva instalação desportiva. Os trabalhos englobam a demolição de placas de piso, lavagem e limpeza de todo o piso do polidesportivo e murete de vedação, pintura dos muros de vedação, substituição das estruturas metálicas de suporte das redes de vedação e substituição das respetivas redes.

Será ainda assegurado o fornecimento de equipamentos desportivos, aplicação de novo piso e realização de marcações desportivas.

Será executado um passeio em pavê hexagonal para garantir as acessibilidades ao polidesportivo. O percurso irá seguir básicamente as cotas naturais do terreno. Execução de percurso suave garantindo a inclinação suave de ≤6%, para cumprir as acessibilidades ao polidesportivo.

11 de novembro de 2024

"Correio da Feira" - Fim anunciado


Ontem, no escaparate da loja da BP, aqui em Guisande”, peguei num exemplar do jornal “Correio da Feira” e li o que já poderia ter lido há 6, 10 ou 15 anos, que a coisa ia terminar por ali, deixando apenas a incógnita da “suspensão por tempo indeterminado”.

Como estas coisas não se anunciam assim de ânimo leve, sem mais nem menos, tinha escrito o habitual rosário de justificações, nomeadamente,  “...são várias as razões que levaram de novo o jornal à sua insustentabilidade. Convém referir a primeira, como também convém referir que é a mesmíssima que leva à insustentabilidade de muitos outros títulos, dezenas, centenas de muitos títulos neste país e por esse mundo fora. 

O número de assinantes é insuficiente para manter um jornal em actividade. Diariamente há desistências. Cada vez há menos e menos leitores interessados em assinarem, ou manterem a sua assinatura na imprensa profissional. Há um contínuo desrespeito pela profissão de jornalista. Poucos, e por isso insuficientes, estão interessados em pagar para se fazer informação profissional e isenta….concluindo, somos todos, enquanto sociedade, quem está a assinar o óbito da Imprensa. Portanto, como sociedade, assumamos as nossas responsabilidades!”.

Ora este “...assumamos as nossas responsabilidades!” também é chapéu que me cabe na cabeça e tanto mais que fui assinante do jornal, mesmo que na versão digital.

Com mais ou menos “rodriguinhos”, é há muito sabida a dificuldade da imprensa e sobretudo a escrita e por maioria de razões daquela que tem pouco expressão como a regional ou concelhia. Se é certo que com as plataformas digitais os problemas aumentaram, apesar de também criar novas oportunidades e diferentes alternativas, o certo é que as dificuldades do sector são até muito anteriores e à custa delas já haviam ficado pelo caminho grandes títulos da nossa imprensa, desde o “Século”, o “Diário de Lisboa”, “A Capital” e outros diários mais a norte como o “Primeiro de Janeiro” e o “Comércio do Porto”, etc.. Mesmo os que se mantêm, como o “Diário de Notícias”, de que também fui assinante” e o “Jornal de Notícias”, andam constantemente com o nó na garganta e como diz o povo “a cagar e a tossir” e lá vão indo e andando, mais a fazer de conta e com apoios por vezes duvidosos do que por resultado de bom trabalho e boas práticas empresariais e jornalísticas

Não vou, naturalmente, estar aqui a esmiuçar a questão porque não sou do sector nem nele tenho interesses para além da percepção de mero leitor.

Em todo o caso, mesmo que com todas as dificuldades do contexto, as responsabilidades residem em muito em, tantas vezes, não ter sido capaz de garantir o interesse dos leitores e assinantes.

Por exemplo, no caso do “Correio da Feira”, quando fui assinante online, a plataforma era lenta, pouco apelativa, continuava com excesso de publicidade e esta a atravancar o espaço de leitura e as notícias poucas, de pouco interesse, como “pão recesso e sem miolo”. Ora continuar a ser assinante para pouco ou nada receber em troca, convenhamos que era pedir muito. Assim descontinuei e do lado de lá da linha também não mostraram interesse em rebater ou a encaixar as queixas ou incentivar à renovação. É o que é.

Não me surpreende, pois, este desfecho como já não tinha surpreendido o do “Terras da Feira” que depois de um crescimento insuflado, mandado por "testas de ferro", andou a estrebuchar uns tempos até se extinguir.

No caso destes dois importantes jornais concelhios, sem prejuízo de acolher o contraditório, parece-me que em muito padeceram da acção, mesmo que involuntária, de maus políticos e de fracos empresários. Durante um bom período percebeu-se que representavam “a voz dos donos”, estes "testas de ferro de outros interesses", cada um a puxar a sardinha para a brasa da sua partidarite, como se de algum modo fossem uma espécie de “Avante”, sendo que este com a vantagem de não enganar ao que vinha.

Posto isto, pessoalmente entristece-me que um jornal centenário”, mesmo que durante uma grande parte da sua longa vida de 127 anos o seu conteúdo fosse pouco relevante sob um ponto de vista noticioso, sendo mais da Feira, vila ou cidade, do que do concelho, mas mesmo assim só por essa história e longevidade mereceria ser mais acarinhado e continuar a testemunhar esse legado centenário.

Assim sendo, acredito que mais mês menos mês alguém retomará o título e depois poderá ser o mais do mesmo, porque será preciso muito para que um jornal seja sustentável, sem apoios públicos e institucionais, que de algum modo ponham em causa a imparcialidade e isenção da sua função de formar e informar de todos para todos.

Neste concelho gastam-se milhões em patuscadas e entretenimento de massas e talvez haja algum para apoio a um jornal concelhio mas, sinceramente, não estou a ver como, tanto mais que sem colocar em risco a tal necessidade de imparcialidade e choque de interesses. Não sei! O que sei, é que foi dada a notícia de que o título está suspenso de forma indeterminada, seja lá o que isso signifique para além do óbvio.

Se regressar como um jornal de qualidade, com uma cobertura do concelho, independente e imparcial, não me custará a voltar a ser assinante, mesmo que numa perspectiva de ajudar. A ver vamos mas em rigor sabemos que não será nada fácil porque os tempos, os meios e os hábitos muderam de forma substantiva. 

Espero, memso, que como disse o director nas suas palavras finais do Editorial, que não seja um adeus.

7 de novembro de 2024

IMI, o imposto estúpido e injusto

Acabei de pagar a minha segunda das duas prestações anuais do IMI - Imposto Municipal sobre Imóveis. É como é tão prazeroso pagar este imposto ao Estado, ou, através dele, à Câmara Municipal. No fundo é pagar uma renda de um prédio que é nosso e que por isso não lhes pertence nem um cêntimo gastam para o conservar. Mais prosaicamente, numa rima com sentido, "é pagar para ser fo..do".

Dizem, com razão, que este será dos impostos mais estúpidos. Mas, acrescento, também dos mais injustos e desde logo porque ao edificar-se uma habitação, já se pagou projectos, taxas e licenças e no caso até cedi terreno para alargamento da rua e construí passeio público na frente do prédio. Na compra do terreno paguei sisa, imposto de selo, etc. Na construção paguei IVA, desde a areia aos tijolos. No empréstimo continuo a pagar juros e imposto de selo.

Mas, como diz o outro, mesmo sabendo que é um roubo travestido de legalidade, que lhes faça bom proveito, sempre lhes dará para patrocinar umas valentes patuscadas. Alguém tem que pagar os desmandos!

Em contrapartida, conheço por cá alguns doutores e engenheiros que estando a viver nas suas belas e boas casas há dezenas de anos, porque, ao arrepio da lei, ainda não solicitaram licenças de utilização, vão escapando a este imposto estúpido, pagando valores mínimos do prédio, tantas vezes ainda na condição de rústico, e no futuro sujeitos apenas à liquidação dos últimos quatro anos (creio que ainda vigora essa regra). Há, de facto, crimes e ilegalidades que ainda compensam.

Siga, que é Portugal, brando com os incumpridores e forte com os que cumprem!

4 de novembro de 2024

Por enquanto isto não é um emprego


Há dias questionou-me alguém de consideração, de que há algumas situações ou eventos na freguesia a que nem sempre dou notícia ou destaque aqui nesta página ou mesmo nas minhas redes sociais, nomeadamente no grupo privado "Guisande: Ontem e hoje". E gostaria essa pessoa que sim, pois é assíduo leitor e como se costuma dizer, não perde uma.

Ora eu fico satisfeito com esse interesse e sei que apesar de ter por cá leitores assíduos e interessados, e que assim justificam as centenas de visitas diárias, este espaço será porventura mais apreciado e seguido na nossa comunidade emigrante do que propriamente cá pela terra. Por lá eles leem com interessse e saudade; por cá, quase sempre por curiosidade e não raras vezes para saber qual a parte do lombo onde doi mais para melhor aplicar as alfinetadas, e não é para tratamento e bem estar como com as agulhas na acupuntura. Adiante, pois sei do que a casa gasta!

Não obstante, e tal como respondi a esse fiel leitor e seguidor, esclareço, por via de dúvidas, que este espaço é pessoal e não é nenhum jornal nem uma estação de rádio nem o seu autor tem responsabilidades de publicar tudo o que se passa e acontece, de positivo ou nem por isso. Por enquanto isto não é um emprego nem um arquivo. Não tenho, pois, nenhuma ou qualquer obrigação. Por isso publico o que quero, quando quero, como quero e quando posso e se muitas vezes não dou destaque a uma ou outra coisa, pode nem ser por algum motivo especial ou desinteresse  mas somente por esquecimento, desmazelo, até preguiça, ou porque entendo que não é relevante assim a ponto de merecer destaque. Além do mais, algumas dessas situações já são partilhadas nas redes sociais até à exaustão pelo que republicar ou repartilhar seria apenas chover no molhado.

Assim sendo, reitero que este é um espaço pessoal e por isso sem qualquer responsabilidade de outra natureza. Não tenho obrigações com quer quer seja, nem comigo próprio. Obrigações tenho-as no meu emprego porque é suposto que o patrão me pague, pelo que é do trabalho e do correspondente ordenado que procuro viver.

Em resumo, este espaço, bem como os espaços nas redes sociais, nomeadamente no Facebook, é pessoal e não rola por conta de alguém que não apenas pela minha vontade e disponibilidade. Quem quiser mais, que compre o jornal, ouça a rádio e veja a televisão.

Por aqui vai-se fazendo o que se pode! 

28 de outubro de 2024

Centro Cívico do Centro Social - À vontade mas não à vontadinha

O Centro Cívico de Guisande é um equipamento da freguesia, mas é sobretudo dos associados já que pertence a uma colectividade, à Associação do Centro Social S. Mamede de Guisande. Está, pois, por princípio, ao serviço da freguesia, da comunidade, mas sobretudo ao serviço dos seus utentes e que em primeira análise sejam seus associados, que pagam quotas, que ajudam à sustentabilidade do equipamento e das actividades nele previstas ou realizadas. É assim em qualquer colectividade.

Todos sabemos que ainda está por cumprir o objectivo principal que levou à sua edificação, que é ser Centro de Dia e de apoio domiciliário, essencialmente de ajuda à nossa comunidade sénior. Apesar de disso, porque a política e os políticos são no geral pessoas de má reputação, pouco ou nada confiáveis nem recomendáveis, em que a palavra e as decisões raramente são cumpridas, tal objectivo continua por concretizar mesmo tendo sido aprovado há pelo menos uma década. 

Vieram as famosas cativações do ministro Mário Centeno e de lá para cá, mesmo com a mudança de governos, a coisa continua por cumprir.

Assim, neste estado de morto-vivo, tem andado a Associação do Centro Social e do seu Centro Cívico, funcionando parcialmente, com muitas dificuldades e diga-se, em grande parte pela dedicação e dinamismo do que foi o seu presidente da Direcção, Joaquim Santos, e agora presidente da Comissão Administrativa, porque, recorde-se, a associação continua sem corpos-gerentes eleitos pela simples mas não dispicienda razão de que ninguém apareceu para tomar conta dos destinos. Ninguém quer nada. Ninguém quer trabalhar, sobretudo de graça e para os outros. Eu próprio me cansei e depois de ter tomado parte em vários mandatos, estou sem vontade e paciência em continuar.

Neste contexto, triste mas real, apesar disso o Centro Cívico tem-se mostrado como um equipamento fundamental às dinâmicas da freguesia e dos seus movimentos, como tem sido, entre outros, no apoio às comissões da Festa do Viso, agora do evento Trail do Viso, também do Grupo Solidário, etc, etc. Está, pois, a cumprir o seu papel mesmo que em situações em que formalmente não tinha essa obrigação, porque dele tem beneficiado muita gente que não é sócia, não quer ser, não paga quotas, nem contribui. 

Ora isso cria desigualdades e outros problemas. Afinal, tantos, como eu, que anualmente têm pago as suas quotas, quais os benefícios que colhem comparativamente a quem não paga e usufrui nas mesmas condições das dinâmicas ocorridas no Centro Cívico? Em rigor, nada, tirando um ocasional desconto num qualquer passeio, que nem todos aproveitam. Talvez por isso tem aumentado o número de sócios que desistem de pagar quaotas.

Com tudo isto, considero que o à vontade não tem que ser à vontadinha. O Centro Cívico mesmo que posto à disposição dos grupos, movimentos e eventos, tem responsabilidades, tem despesas, tem encargos, desde logo com a limpeza, a electricidade, a água, etc, etc. Ora não me parece bem, que depois desse aproveitamento não haja uma compensação por parte dos grupos ou movimentos utilizadores, tanto mais quando se registam saldos positivos dessas actividades. 

Ainda agora, foram apresentadas e fechadas as contas da Festa do Viso, com saldo positivo, e apesar das várias utilizações do espaço do Centro Cívico ao longo do ano, de acordo com o seu presidente, Joaquim Santos, ainda nada lhe foi entregue como compensação para os muitos gastos, ao contrário da sua expectativa, nomeadamente por ter havido saldo positivo.

Ora, a confirmar-se, não me parece correcta esta situação. Ajudar, colaborar, com certeza que sim, mas dentro do possível com alguma compensação para os gastos. É o mínimo e compreensível.

Sou, pois, de opinião que continue o Centro Cívico a estar ao serviço das dinâmicas da freguesia e da paróquia, mas com todas essas utilizações a serem previamente protocoladas e com caderno de encargos, para que não seja uma utilização abusiva ou oportunista e que não tenha em conta a justeza da compensação e da natureza da associação, uma entidade que precisa de meios para subsistir. Era só o que faltava que fosse a coisa sem qualquer controlo e os sócios a pagarem para alguns desmandos.

Mas isto sou eu a opinar, que ainda sou sócio, que tenho pago desde há vários anos as minhas quotas (duas) à associação. 

Haja, pois, bom senso e algum respeito porque à vontade não deve ser à vontadinha.


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Nota de esclarecimento: Já após a publicação da opinião acima, fui contactado pelo Nelson Valente, Juiz da Comissão de Festas desta edição de 2024, a esclarecer que o que foi escrito quanto à compensação ao Centro Social não corresponde inteiramente à verdade pois durante a realização dos diferentes eventos de angariação de fundos a Comissão de Festas foi pagando, e por diversas vezes, alguns valores ao Centro Social. E que mesmo do saldo apurado não está posta de lado alguma outra compensação final sendo que naturalmente a maior parte será para aplicar em obras e necessidades da capela.

Quanto à eventual contradição, obviamente que desconhecia se houve já compensações durante os eventos, e do que referi quanto à expectativa que o Sr. Joaquim Santos, presidente do Comissão Administrativa, tinha em receber uma compensação em resultado do saldo positivo, foi-me, obviamente, transmitida pelo próprio e este nunca fez referência a anteriores recebimentos.

Assim, resulta daqui, que pela minha parte peço desculpa por não ter ouvido primeiramente ou como contraditório, a versão da Comissão de Festas e por naturalmente confiar na informação que me foi dada pelo responsável do Centro. Não significa que este tenha mentido mas de facto não me contou a história toda e faria toda a diferença se o tivesse feito pois o sentido da minha opinião seria diferente no que toca à Comissão de Festas.

Posto isto, a ter sido assim, e feito o esclarecimento, acredito que a Comissão de Festas fez o que tinha a fazer, já que na justa medida foi compensando pela utilização do Centro Cívico nos diferentes eventos. 

Como eu disse, o Centro Cívico deve estar ao serviço da comunidade e das suas dinâmicas, grupos e movimentos, mas importa que na medida justa haja compensação, sobretudo quando há saldos positivos nas actividades, pois o Centro Social tem encargos e despesas fixas que alguém tem que pagar.

Finalmente, se algum equívoco houve, resultou também da legítima expectativa que me foi expressa pelo responsável do Centro Social em vir a receber alguma compensação e esta não ter sido feita antes do fecho das contas e da sua divulgação pública. Porventura essa compensação, a ser feita, poderia ter sido incluída nas despesas e não na parte da gestão e aplicação do saldo. São diferentes maneiras de ver a questão. Eu teria incluido nas despesas.

Fica, pois, aqui este devido esclarecimento. De minha parte reitero o pedido de desculpas por algum equívoco e renovo os parabéns à Comissão de Festas cessante pelo bom trabalho desenvolvido e reforço a ideia base de toda este opinião de que nestas coisas deve haver colaboração entre as partes e num sentido de justeza e equilíbrio e não apenas um mero aproveitamento do Centro Cívico, pois queira-se ou não, é uma colectividade com sócios, muitos deles a pagar quotas ( e só estes é que têm essa legitimidade) aos quais tem que se prestar contas no final de cada ano. Ora eu, como sócio pagante, não gostaria que, na aprovação do relatório e contas da colectividade para a qual contribuo, ficar a saber que as instalações foram cedidas a A, B ou C sem que daí resultasse, senão lucro, pelo menos uma compensação justa para as despesas decorrentes. Quem pode estar contra isto?

17 de outubro de 2024

O raio da dicotomia

Confesso que nos últimos tempos a relação ou estado de alma com a minha freguesia tem sido pautada por uma dicotomia que ainda não consegui deslindar. Por vezes ainda consigo ver nela a pujança, vontades e originalidades das décadas de 70 e 80, num desabrochar do jardim de Abril, onde havia intervenção entre adultos e jovens. Havia lugar à política, ao clube e ao futebol, que uniam e o campo de jogos aos Domingos era uma praça de gente de todas as idades.

Os jovens eram criativos, juntavam-se e do pouco faziam muito. Havia escola de música, teatro, biblioteca, jornal e rádio. Havia associações culturais e recreativas.

A paróquia ainda era um rebanho com poucas ovelhas tresmalhadas e o pastor respeitado e todos congregava à ordem de reunir.

A freguesia tinha vida, pulsava, mostrava-se capaz de transpor a sua pequenez e avançar mais além, com uma identidade muito própria, dela e nossa.

Depois veio um período sensaborão, nem sim nem sopas, nem carne nem peixe, e aos poucos a existência comum tem vindo a erodir, a esvair-se. Na roda da vida, os mais novos cansaram-se e ficaram velhos, os mais idosos alquebrados pela idade e doença partiram cada um na sua vez. A emigração aumentou, a natalidade baixou e para cada dezena de gente que parte definitivamente nascem uma, duas ou três crianças.

Os cafés, locais de convívio e tertúlia, fecharam portas ou encerram cedo. As escolas, outrora cheias de criançada e do seu pulsar de vida, há anos que fecharam ao ensino e abriram-se ao abandono. Do aproveitamento delas, incluindo o Centro Cívico, nem todos têm remado para o mesmo lado e não falta quem espalhe pedras e cascas de banana pelo caminho. A igreja deixou de estar cheia e os lugares vazios são quase sempre mais que os ocupados.

A política deixou de despertar interesses e já não há militantes, delegados, simpatizantes, nem nada. O clube de futebol quer ressurgir, vai resistindo, mas nunca mais será como dantes e o eco da multidão a celebrar o golo já não se faz ouvir fora dos muros do recinto.

Nuns impulsos, há jovens que se congregam a querer fazer coisas, mas como flores colhidas a cada Primavera, em breve murcham e perdem a cor e o aroma.

Cada vez mais as pessoas não vivem nem convivem fora de portas e o sentido de comunidade perde-se a olhos vistos. Ainda se veem em dias de festa grande ou de celebrações, mas ninguém passa daí, nem quer assumir cargos ou funções a favor dos outros, de todos. É um egoísmo latente este que vai ficando por entre portas numa mera obrigação de contribuintes, de serviços mínimos, e quanto ao resto alguém que faça ou organize porque nada é com eles mas sempre com os outros.

É certo que esta coisa da união de freguesias em nada ajudou e só veio abafar a realidade que já mal respirava, promovendo o distanciamento, a indiferença, o deixa andar num crescendo de desinteresse.

E vai sendo assim. E contudo, temos tudo. Temos internetes e redes sociais capazes de chamar, de convidar e mostrar. Temos grupos e grupinhos no Facebook e Whatsapp onde combinamos e partilhamos coisas, mais ou menos pessoais, mais ou menos generalistas mas quase sempre pouco a favor do todo.

Temos todos bons carros e boas estradas, computadores e câmaras de fotografar e filmar nos bolsos dos casacos e calças. Comunicamos à velocidade da luz e vemos em directo os rostos de com quem falamos nos antípodas, no Brasil ou na China. Já não há cartas nem esperas pela volta do correio.

Mas tendo tudo, temos nada, porque fora desses casulos virtuais, online, já quase não nos reconhecemos na rua e quando passamos uns pelos outros, sendo incapazes de traduzir num olá, num sorriso, em dois dedos de conversa, o que expressamos online, por emojis ou likes. Somos uns ricos pobres, com tudo e com nada, com mãos cheias de vazio.

Mas esta dicotomia, faz das suas e num repente, ignorando este estado das coisas e das gentes, parece que dá vontade de voltar a acreditar e pensar que as coisas vão melhorar, que cairemos na realidade e aos poucos iremos fazer caminho juntos e estreitar laços e criar comunidade. Jovens e adultos serão capazes de fazer novas coisas porque diferentes são os tempos. Que a freguesia e a paróquia serão capazes de valorizar o legado que os antepassados deixaram com sacrifício e vontade. Entraremos num novo ciclo de fazer e saber fazer, de reforçar a nossa identidade e dela nos orgulharmos.

Mas, tantas vezes, nesta crença, nesta vontade de que seja assim, lá vem algo ou alguém como água fria a descarregar-se nesta ilusão, como pedra de mó a fazer-nos ficar presos à terra quando a vontade é voar.

E recomeça o ciclo da crença e descrença. O raio da dicotomia volta a enredar-nos, a mostrar e a demonstrar que não será fácil qualquer inversão de marcha porque o caminho é sinuoso e estreito.

Em resumo, talvez o que nos faz ainda ter alguma crença em mudanças será mesmo este vai-e-vem, como também a querer significar que a seguir a cada Inverno haverá uma Primavera, mesmo que cada vez mais os tempos andem trocados e às tantas já nem sabemos se as flores exultam na Primavera ou se despontam no Outono.

Assim vamos indo e andando na espera e crença contínuas e cíclicas de que as coisas possam melhorar, numa permanente luta com a dicotomia. Afinal, a cola que ainda mantém esta esperança é o amor que ainda (alguns) temos pela nossa terra, o torrão onde fomos plantados e criamos raízes. Só por isso.

1 de agosto de 2024

Viagem Medieval? Não, obrigado!

 Há 20 anos que não ponho os meus pés na Viagem Medieval.

Apenas por umas poucas razões: 

1 - A primeira desde que, enquanto membro da Comissão de Festas cá da terra, solicitei um apoio da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira à componente cultural,  pela participação de duas bandas filarmónicas, e nem sequer merecemos resposta nem a atribuição de 1 euro que fosse.

2 - Não concordo que enquanto cidadão livre, defendido pela Constituição, que me permite a livre circulação no espaço público não o possa fazer durante quase duas semanas, numa zona nobre e ampla de uma cidade, convertida por esses dias num parque temático.

3 - Se gostei da genuinidade das primeiras edições, e ainda no castelo, depressa percebi que a coisa se massificou. Não sou adepto de entretenimento massificado. Defeito meu, admito! 

Mesmo assim, da duração, creio que 4 dias seriam suficientes. 12 é um exagero e todo o constrangimento que daí decorre. Quem por ali vive ou trabalha, melhor é meter férias e dar de frosques.

Reconheço obviamente a importância económica para o concelho, seja quem disso beneficie, e serão muitos, mesmo que digam que quase sempre os mesmos, mas como dela não colho 1 euro, é daquelas coisas relativas, a desconsiderar porque de que vale sermos ricos por ter o ovo no cu da galinha do vizinho? Além do mais, nem tudo pode ser justificado pelo dinheiro e receitas.

Apesar de tudo, é engraçado ver tanta gente feliz a fazer de conta que é cavaleiro, a comer e a beber sem olhar a preços, sempre exorbitantes . Assim fossem tão empenhados estes nobres e valentes cavaleiros de fingimento a apanhar batatas. Não são, mas que se divirtam!

Passarei pelo burgo logo que que o espaço público atravancado seja devolvido aos cidadãos, assente a poeira das batalhas fingidas e dissipado o cheiro a porco no espeto.

26 de julho de 2024

Postal do dia - Obrigado ao Johnny Almeida e à Comissão Fabriqueira


Tenho escrito e falado sobre o assunto, o da necessidade de obras de conservação na nossa capela dedicada a Nossa Senhora da Boa Fortuna e a Santo António, popularizada como Capela do Viso. Em Maio de 2023 escrevi sobre isso e de que então já havia o propósito de realizar obras.

Mas não se realizaram e em Agosto desse ano, decorreu a nossa maior festa comunitária, a Festa do Viso, com a capela, sobretudo o interior, em mau estado do reboco das paredes, como uma nódoa ali a envergonhar-nos, perante nós próprios e sobretudo para quem nos visitava.

No arraial gastava-se dinheiro em artistas e em foguetes e na capela, em que reside o motivo maior, via-se aquela situação. As imagens que ilustram este apontamento são elucidativas.

Pensei eu que, entretanto, seriam feitas as obras para que a situação não se repetisse na festa deste no de 2024. Todavia, porque entretanto foi dada prioridade às obras do Salão Paroquial, felizmente já feitas e bem feitas, parece-me, o tempo ficou apertado e de novo a capela a correr o risco de se apresentar vergonhosamente à comunidade local e forasteira, tanto mais quando vamos ter o privilégio de cá ter o bispo auxiliar do Porto, D. Roberto Mariz, a presidir à celebração da Missa Solene.

Pessoalmente é uma situação que me envergonha e desde logo porque acho paradoxal que se faça uma festa com qualidade no arraial e na capela se veja esta pobreza de estado de conservação. Quem não se envergonha ou incomoda com isto?

Neste contexto, mesmo que a título pessoal e informal, questionei sobre o assunto alguém do Conselho Económico – Comissão Fabriqueira, no caso o Johnny Almeida, o qual reconhecendo a situação, se prontificou a analisar a mesma no sentido de ver se ainda a tempo, mesmo que de forma provisória, fosse possível retocar os pontos mais deteriorados.

Contactou-me entretanto a confessar que a situação era mesmo grave e que a coisa já não se resolveria apenas com uma intervenção ligeira. Assim, num compromisso de esforço e dedicação, e deslocando pessoal da sua empresa de outros trabalhos, comprometeu-se a que nestes dias e até à festa, irá fazer uma intervenção que seja já de forma definitiva, mesmo que apenas parcialmente, porque de facto não haverá tempo para mais.

Assim, começará a revestir as paredes interiores desde a parte do coro até onde for possível até aos altares laterais. A solução é a mais adequada, com aplicação de revestimento em placas de gesso cartonado, já que a solução de reconstrução do reboco pelo método tradicional, para além de mais demorado não resolveria o problema de humidades e salitre e dentro de poucos anos o problema voltaria.

Neste contexto, comprometeu-se pessoalmente e pela Comissão Fabriqueira a fazer os possíveis para nestes próximos dias revestir a maior área de paredes possível. O tempo é curto mas com competência será possível atalhar.

Pessoalmente não tenho quaisquer responsabilidades nem peso decisório na matéria e a minha interpelação foi apenas a título pessoal, mas não posso deixar de agradecer aqui publicamente a sensibilização do Johnny Almeida, e estou certo que de acordo e conhecimento com os demais elementos, incluindo o pároco Pe. António, bem como à sua dedicação e empenho, mesmo que com inconvenientes para a organização dos trabalhos da sua própria empresa.

É de facto meritória a sua acção e mesmo sem ver o resultado do trabalho, e se não surgirem obstáculos, acredito que pela sua competência será capaz de, mesmo que de forma incompleta, dar a dignidade adequada à capela e à altura da festa que recebe em honra de Nossa Senhora da Boa Fortuna.

Há alturas em que é preciso pôr mesmo o carro à frente dos bois, pois parece-me que nestas coisas de atalhar problemas, tantas vezes é pior nada fazer do que fazer menos bem ou de forma mais apressada.

Pela parte que me toca, obrigado ao Johnny Almeida e à Comissão Fabriqueira pelo interesse que acolheu a minha interpelação e se prontificou a mitigar essa nódoa na nossa capela no dia da sua festa maior.

Sem fazer julgamentos antecipados, até porque a equipa é nova, parece-me que é neste caminho que se tem que trabalhar, de forma decidida, sem as crónicas hesitações que só adiam e agravam os problemas e as necessidades.

Conservar com dignidade o nosso património comum é respeitar o legado de quem ao longo dos tempos o edificaram e transmitiram.

Bem hajam pela vontade, dedicação e acção!



22 de julho de 2024

A importância do Centro Cívico

Vamos ter na nossa Festa do Viso, neste ano de 2024, serviço de refeições que funcionará no Centro Cívico. Foi anunciado pela Comissão de Festas e confirmado pelo presidente da Comissão Administrativa do Centro Social S. Mamede de Guisande, Joaquim Santos. O serviço ficará ao encargo do Armando Ferreira e da esposa Isabel Paiva, do Café Fornos, pelo que aguarda-se boa qualidade e diversidade.

Confesso que fico satisfeito, desde logo porque sabe sempre bem almoçar, jantar ou petiscar na nossa festa. Pode ser tudo muito simples mas ali, naquele local e momento, as coisas sabem melhor.

Sem ter a certeza, presumo que tal como no ano anterior, teremos também a tasca do Guisande F.C., também a servir algo para comer. Seria interessante para além de que será bom para todos.

Fico satisfeito por outro lado pois percebe-se que a instalação do Centro Cívico, mesmo que ainda sem cumprir com o motivo principal da sua edificação, o de ser um Centro de Dia, e que ainda só não acontece por questões políticas e de poupanças e retenções em diferentes governos, tem sido de uma enorme utilidade no apoio das actividades da nossa comunidade, como é o caso da organização da Festa do Viso.

Todavia, e como nem tudo é perfeito, em contraposição a esta concensual utilidade da instalação, fica o desconsolo de constatar que para além disso, ninguém se chega à frente para assumir responsabilidades directivas no Centro Social. Ora como não apareceram listas candidatas nas duas anteriores assembleias gerais, o Centro Social está a ser gerido com serviços mínimos por uma Comissão Administrativa e que entretanto também terminará o seu mandato.

Temos assim esta duplicidade, com realidades diferentes: Por um lado o inegável interesse do Centro de Dia, e por outro lado o desinteresse e desvio às responsabilidades, levando a que ninguém apareça para assumir e dinamizar a Associação do Centro Social.

Onde é que isto vai levar? Não sei responder. Preocupa-me? Claro que sim, mas como já dei para esse peditório, fazendo parte dos corpos gerentes em vários mandatos, é responsabilidade que por agora não quero repetir. De resto, há muitos  e bons, e bem mais novos, na possível lista de espera. Assim tenham essa vontade como nós, quando éramos bem mais novos, tínhamos! É o que se espera da renovação de uma comunidade.

7 de julho de 2024

Postal do dia - Que não apenas pão e circo

 


O artista musical e divulgador do cante alentejano, Buba Espinho, actuou ontem nas Caldas de S. Jorge, com concerto integrado no Caldas Sabor & Arte, um evento a que não encontrei classificação, se festival, se feira ou outra coisa qualquer, mas seguramente dentro da categoria de comes-bebes com música e outros tópicos.

Vi apenas parte e gostei. Obviamente que conhecia o estilo e a qualidade e fiquei com inveja de não termos um artista com essa qualidade no Corga da Moura ou mesmo na Festa do Viso.

Reconheço, contudo, que não é coisa para jovens e adolescentes porque por ali não há batidas, spunk, spunk, barulho a rodos com decibéis a rebentar a escala e os tímpanos (como aconteceu no Corga da Moura)e gente que para ter assistência a potes não basta saber vestir ou cantar. Mas isso é outra história e de diversidade também se faz a diferença, goste-se ou não.

Apesar disso, Buba Espinho e os seus excelentes acompanhantes ajustam-se melhor a um ambiente de intimidade, se possível em espaço fechado. Assim, foi o que foi. Gente bastante, sobretudo de meia idade para cima, mas longe da que arrasta um qualquer artistazeco do hip-hop ou coisa parecida. Além disso, frio, muito frio, pouco convidativo a estar, mesmo a beber, do que muito vivem as tasquinhas. Mas é velho e sabido que a zona envolvente ás Termas e ao Uíma sempre foi de temperaturas de frigorífico.

Hoje ao início da tarde regressei ao espaço e voltei a gostar, mesmo que ainda sem grande movimento.

Apesar de tudo, já numa apreciação meramente prática e analítica, espanto-me dos valores que as entidades, sejam Juntas de Freguesia ou Câmaras Municipais, gastam neste tipo de eventos, trazendo artistas que naturalmente não vêm pelo modesto preço de um rancho folclórico. E esta realidade não é, naturalmente, exclusiva do nosso território, mas também de tantos outros. Por princípio não é negativo, claro que não, e além disso já vem do tempo da velha Roma a máxima de que a populaça anda feliz e calma quando se lhe dá pão e circo. Mas que se gastam balúrdios de dinheiro nestas coisas, nestes programas musicais, gasta-se. 

O problema nestas coisas, paradoxo ou contradição, é verificar que na maior parte das freguesias onde há esses elevados gastos, há ruas com pavimentos em reles estado, valetas, bermas e espaços públicos por limpar e obras e melhoramentos por fazer ou eternamente adiados. Ainda hoje, precisamente antes de voltar ao Caldas Sabor & Arte, passei pelo Parque da Várzea em Pigeiros, nas margens do mesmo Uíma, e é deplorável a falta de limpeza com lixo espalhado por todos os cantos, a afastar quem queira pique-nicar ou apenas saborear as sombras e pacatez bucólica do local. Fugi dali!

Precisamos, pois, de tudo, incluindo destes momentos de confraternização, de lazer e entretenimento, mas importa não perder o rumo ao bom senso e equilíbrio e não privilegiar apenas o pão e circo porque se considera que isso em termos eleitorais poderá  render frutos É preciso mais, bem mais, que isso.

Haja, pois, comedimento e tudo no ponto adequado. Sem espinhas!






1 de julho de 2024

Postal do Dia - Virão dias melhores?


Terminou a Visita Pastoral à comunidade interparoquial que integra as paróquias sob a responsabilidade do Pe. António Jorge de Oliveira, S. Mamede de Guisande, Nossa Senhora da Assunção de Pigeiros e Caldas de S. Jorge.

Por uma casualidade que não havia previsto há pouco mais de meio ano, concretamente em Outubro passado, quando o pároco me pediu para representar a paróquia de Guisande num encontro a nível vicarial de representantes das diversas paróquias, que por sua ver iria eleger a representante vicarial ao Conselho Pastoral Diocesano, acabei agora por ficar envolvido na organização do programa da Visita Pastoral.

Não imaginei que viesse a ter estas responsabilidades, pois apesar de já ter feito em diferentes tempos parte de vários grupos na paróquia, como Grupo de Jovens, Grupo Coral, Grupo de Leitores,Grupo da LIAM, aquando do pedido do Pe. António, não estava agora com qualquer ligação.

Seja como for, não me neguei a prestar essa colaboração ao pároco e à paróquia e a coisa avançou, com algumas freimas, muito envolvimento, mas terminou ontem, e parece-me que com um saldo muito positivo.

Paróquia e freguesia são conceitos diferentes mas que acabam por se interligar em muitos aspectos de vivências e convivências, tanto mais num meio relativamente pequeno como o nosso. Apesar disso, neste contexto da Visita Pastoral pude perceber com mais profundidade que ainda há caminho a percorrer no sentido de uma mais abrangente participação da comunidade. Esta ainda é muito reticente e mesmo renitente no que se refere à participação como um todo. É, pois, muito sectorial e uma grande parte da população, mesmo que convidada abertamente a participar em momentos de partilha comunitária, regra geral prima pela ausência numa atitude de quem considera que estas coisas são para quem vai às missas ou mesmo apenas para os que fazem parte dos grupos e dinâmicas da paróquia.

 Mesmo alguns dos pais de crianças que andam na catequese, nos diferentes anos, encaram isto como "biscates", inconveniências e perda de tempo. Se numa reunião há um atraso, vociferam e reclamam. Podem até esquecer a coisa nos momentos em que são chegadas as festas e festinhas, porque então aparecem, tiram a fotografia e vão a restaurantes celebrar, mas fora disso a atitude não é a mais positiva ou de participação interessada. 

Viu-se este quase desinterese particularmente no acolhimento ao Sr. Bispo, a cuja sessão nem foram todos os convidados, embora alguns com legítimas justificativas. Também na celebração da eucaristia campal, no Monte do Viso, e depois no jantar convívio partilhado, ficou muito aquém a participação da restante comunidade, não só da nossa paróquia como das demais.

Nestes aspectos não somos melhores nem piores do que as demais freguesias e mesmo das demais paróquias que compõem esta comunidade interparoquial. Se quisermos fazer este exercício, até em termos proporcionais ao tamanho das populações, atrevo-me a considerar que Guisande até estará bem na fotografia, mas mesmo assim é pouco.

Em suma, a freguesia ou a paróquia, no aspecto de entre-ajuda e participação já teve melhores dias. A razão não está na paróquia ou em quem a dirige ou em quem com ela colabora, mas tão simplesmente na mentalidade das pessoas e actuais hábitos de ocupação de tempos livres e entretenimento em que regra geral valoriza-se a vulgaridade, as banalidades, ou as coisinhas que permitem encher egos. Ainda o conforto da casa ou da tasca em detrimento de coisas que exijam algum comprometimento, canseiras e disponibilidade.

Os bons velhos valores dos nossos antepassados estão há muito em erosão. Os mais velhos, os que faziam e sabiam como fazer, porque passado que está o seu tempo de vigor, já pouco ou nada podem fazer senão assistir, com pena, a esta triste amostra de freguesia, quando comparada com a de há algumas décadas. No geral não temos sabido respeitar e dar continuidade a esse legado que nos deixaram.

É certo que ainda há muita coisa positiva e alguma gente capaz e interessada (veja-se, por exemplo, o empenho da Comissão da nossa Festa do Viso), e em face disso, como disse, no caso da Visita Pastoral o saldo foi bem positivo, ainda tanto nas coisas da freguesia como da paróquia, mas não tenhamos ilusões ou expectativas altas, porque o futuro não se prevê melhor. 

Só desejo que este meu algum pessimismo, que entendo mais como realismo possa, a curto ou médio prazo, ser desmentido e que afinal as coisas irão melhorar e teremos uma freguesia mais unida e participativa em tudo quanto lhe diga respeito. A ver vamos! 

13 de junho de 2024

Postal do Dia - Os Ministros Extraordinários da Comunhão


Creio que quem vai frequentando os serviços litúrgicos e pastorais da nossa paróquia sabe o que são os Ministros Extraordinários da Comunhão, abreviados por MEC´s. Não serão necessárias grandes explicações.

Na nossa paróquia temos cinco ministros: o António Conceição, o José Almeida, a Fernanda Eva Silva, a Lurdes Lopes e a Cisaltina Coelho, embora esta, por dificuldades de saúde, não tem estado a exercer. Foi também, de forma dedicada, o Alberto Gomes de Almeida, mas já partiu há uns anos (Outubro de 2012).

Muitos, de forma ligeira e pouco dados a ver para além do óbvio, pensarão que é serviço ou função de pouca importância, mas na realidade é mais do que isso. Desde logo porque como qualquer serviço à igreja, implica comprometimento e dedicação e com isso, tantas vezes, incómodos para o dia-a-dia das nossas coisas. Por isso é que são poucos os que se aventuram a assumir serviços na comunidade. Nada se ganha de visível, passa-se por se ganhar, e à perda de tempo soma-se, não raras vezes, fama indesejada sem proveito.

Os nossos Ministros da Comunhão, para além do que é mais visível e notório, o ajudar o pároco a distribuir a sagrada comunhão durante as missas ou a orientar a reza do Terço, têm sobretudo um papel e missão importantes que é a da visita domiciliária aos doentes, pessoas em idade avançada e em situação de fragilidade e de mobilidade e que assim aos Domingos têm a oportunidade de manter essa ligação de fé e comunhão eucarística. E resulta deste acto, também uma função social, afectiva e caritativa já que há sempre tempo e lugar para uma pequena conversa de ânimo e que tão bem faz a quem durante a semana está preso na sua própria casa ou remetido à cama. Só quem passa por elas é que valoriza estas situações.

Por conseguinte, no que diz respeito à apreciação e entendimento que possamos ter em relação às pessoas que noutras ou na nossa comunidade asseguram este serviço, devemos ter em conta a sua importância e dentro do possível saber prestar esse reconhecimento ou pelo menos não o menosprezar.

[foto: voz portucalense]

20 de maio de 2024

Moinhos de Jancido - Sonho e realidade


Porque já visitei e caminhei pelo local, e apreciei o resultado e a beleza do local, de vez em quando lá vou acompanhando o trabalho voluntário, altruísta e dedicado dos amigos dos moinhos de Jancido - Foz do Sousa – Gondomar. Recuperação dos moinhos, limpeza dos trilhos e matas envolventes, controlo de espécies florestais e fluviais invasivas, colocação de ninhos, plantação de espécies autóctones, como o castanheiro, carvalho, medronheiro,  etc, etc. 

É notável em todos os sentidos o esforço e amor à causa daquele grupo de pessoas, e que tem rendido frutos no que se refere a projecção turística do local e reconhecimento,  e como comparação penso em inúmeros sítios em que seria possível recuperar e entregar à fruição, até mesmo em Guisande. Apesar disso, creio que não passa de um sonho. 

Aqui há uns anos, quando funcionava em pleno a Associação Cultural da Juventude de Guisande, ainda realizamos umas acções de limpeza na ribeira da Mota, perante a incúria e desleixo de pessoas e autoridades, e havia uma vontade de fazer mais coisas, incluindo o manter limpo e transitável um trilho à face da ribeira da Mota.

Infelizmente os apoios oficiais eram inexistentes e num período de transição de gerações na Associação, a coisa não passou dali. Depois de mais uma geração e sem renovação, os afazeres e compromissos sociais, profissionais e familares e  hoje em dia e desde há muito tempo a colectividade está mesmo parada.

Dizia atrás que o replicar por aqui do que tem sido feito em Jancido, é mesmo uma utopia porque não sinto na juventude actual nem tempo nem vontade para estas coisas e mesmo nos mais velhos, como acontece em Jancido, sinto um desligamento, uma erosão do sentido de orgulho comunitário e identitário e já pouco ou nada se faz de forma colectiva e isso percebe-se mesmo na dificuldade de organização de eventos como uma Festa do Viso ou de cariz religioso, etc..

Noutros tempos, havia esse sentido comunitário e de entreajuda, mas isso é passado. 

Apesar disso, quando vejo certos entusiasmos à volta de outras coisas, mesmo que numa perspectiva de lazer, é fácil perceber que se tal entusiasmo e dedicação fosse voltado para outras causas mais comunitárias e não tanto individualistas ou de grupos, ainda seria possível fazer coisas interessantes. 

Mas, francamente, talvez pelo pessimismo próprio da idade e de quem já viu melhores tempos no que à comunidade diz respeito, face ao panorama actual, parece-me mesmo uma dificuldade intransponível. De resto, com a reforma administrativa e a extinção da Junta  e freguesia, foi a machadada final. Por mais vontade que uma qualquer Junta de União de Freguesias demonstre, nunca será a mesma coisa até porque é inevitável a perda de proximidade. A reversão poderá ainda vir a tempo de recuperar alguma coisa do que perdido tem sido, mas sinceramente não estou nada optimista e nem sei se o actual Governo irá dar andamento aos processos encalhados em S. Bento. Mas ver para crer.

Para já fica o bom exemplo da boa malta de Jancido.





5 de maio de 2024

Todos os dias da mãe


Não dou especial interesse ao que dizem ser o Dia da Mãe, que se celebra hoje. Pela minha própria natureza, pelos motivos de não ter sido educado a dar relevo a estas datas, assim como aos aniversários, mas também, desde logo, porque  nos tempos que correm é motivo o "dia de qualquer coisa" para uma vestimenta muito comercial. Não que seja negativo, porque é apenas a oportunidade de negócio, e onde há procura há oferta, mas também é verdade que com isso há uma tendência para que estas coisas sejam apenas rotinas, lugares comuns. Ainda hoje, antes das 10 horas, liguei para quatro restaurantes que frequento com regularidade e todos eles já estavam sem vagas e alguns a desculparem-se que se tivessem mais salas também as encheriam face à procura. E tão somente porque, disseram, é Dia da Mãe.

Por este e por outros motivos, dou pouca ou mesmo nenhuma importância ao Dia da Mãe, ao Dia do Pai e outros parecidos nas intenções. De resto à mãe e ao pai, impõem-se que sejam todos os dias e faz-me cócegas ver alguns gestos, mesmo que carinhosos, de filhos para com os pais, sobretudo com as mães, apenas neste dia e porventura os demais dias, sem proximidade, sem interesse. Mas somos assim, dados a estes impulsos e que a fama efêmera das redes sociais ajudam a espalhar e a mostrar aos outros, nem sempre o que somos, mas o que queremos que pensem que somos.

Felizmente ainda tenho mãe, mesmo que numa fase de debilidade crescente e por isso a necessitar de cuidados redobrados a que a irmandade, dentro das suas limitações, vai procurando atender. E desse modo, face a essa necessidade, são esses dias todos os dias da mãe, de lhe levar as refeições, de lhe fazer tomar os medicamentos, de cuidar da sua higiene, de a confortar mesmo sabendo que tudo o que por ela possa ser feito é uma ínfima parte do que merece e do que deu enquanto mãe. Quem com uma infância que não teve, dura e amargurada, com uma adolescência substituída pelo papel de mulher adulta, quem desde os 18 anos, na flor da vida, gerou, amamentou e criou oito filhos e depois ainda ajudando netos, só pode merecer que todos os dias sejam dela, da mãe. 

O resto é lirismo, muito para a fotografia, muito para o boneco, com frases e dedicatórias de circunstância que tantas vezes não têm correspondência no dia-a-dia.

Sem moralismos, sem lições, sem julgamentos, porque cada um é cada um, e há sempre verdadeiro amor pelas mães, mas mais do que mostrar importa fazer e se possível de forma discreta, sentida, interior. 

Visitei-a já hoje, a minha, mas estava a dormir e não a incomodei, porque nestas idades e neste estado de saúde, talvez haja alguma serenidade  quando se dorme,porque se acordados e de consciência mais ou menos alerta, há todo um mar de sofrimento e de angústia que se revela perante a incapacidade de sermos nós próprios, na plenitude das faculdades. Mas a vida é assim, nua e crua, no lado melhor e pior, caminho a percorrer até que se transponha a linha do destino e esse só a Deus é dado conhecer e traçar.

18 de abril de 2024

Aniversários e parabéns


Sempre que os recebo, mesmo virtualmente, respondo com simpatia e consideração, mesmo sabendo que na maior parte das vezes os votos de parabéns pelo aniversário, são feitos de forma automática ou circunstancial. E quantas vezes por pessoas que logo a seguir se cruzam connosco na rua e nem um sorriso nem um ólá. É o que é! Apesar disso, por respeito, estima e consideração, quando se propicia ou me lembro, também distribuo alguns parabéns.

Em todo o caso, cresci a dar pouca ou nenhuma importância aos aniversários, dos outros e do meu, talvez porque lá por casa, desde que me tenho como gente, também era assim. Regra geral os aniversários de toda aquela gente, avôs, pais e irmãos, passavam despercebidos e não havia lugar nem a bolo nem a velas a apagar. Nem me recordo de, por isso, o jantar ser melhorado. E se no meu caso há uma espécie de lembrete, é apenas pela particularidade de celebrar em dia feriado. Calhasse à semana, em dia de trabalho, e nem daria por isso.

Serve isto para dizer que na família alguém, alguém com a importância de uma mãe, celebra hoje, 18 de Abril, 82 anos. Mas, para meu profundo pesar, os tempos não são de celebração nem de especial tratamento, porque o peso da idade e as mazelas de uma vida dorida já não deixam lugar a coisas triviais, sem sentido. É apenas mais um dia e se é assim para todos, mesmo para os mais novos, é necessariamente para os mais idosos, doentes e debilitados, em que cada dia a somar, e com eles os anos, raramente acrescentam conforto, saúde e bem estar. Pelo contrário, pela lei natural das coisas, cada dia é de dores e só se pode esperar o agravamento e com isso mais sofrimento e menos vontade de  viver e muito menos em celebrar aniversários.

Com tudo isso, mais que celebrar ou recordar aniversários, mesmo que dos nossos, importa é fazer alguma coisa pelas pessoas, estar presente, quando mais necessitam, e isso vale mais que as costumeiras tretas de circunstância, cantigas da praxe, bolos e espumante.

14 de abril de 2024

Alicerces

Numa altura em que voltam a estar na espuma dos dias os conceitos de "família tradicional", em contraponto com o que possam ser outros tipos de família, tenho que concordar com o que por estes dias li algures na blogosfera, em que resumidamente se dizia que "...a morte dos avós é o divórcio da família, no sentido em que sendo, em muitos casos, o elo de ligação e de respeito patriacal ou matriacal, actuam como referência e alicerce a evitar a erosão de cada uma das famílias, por vezes tão diferentes.

Mas sejamos realistas, sendo que sempre continuará a haver famílias tradicionais (pai, mãe, filhos, avôs, netos e netas, e por aí fora), no geral o conceito de família está já há muito em processo de erosão, não porque os seus valores fundamentais, biológicos e cristãoas, tenham mudado, mas porque importa aos obreiros do politicamente correcto cimentar as novas narrativas e modelos onde se encaixem tudo e todo o resto, como as mono-parentais, homossexuais, etc, etc e o mais que possa vir na fila e que emprestem algum sentido a eufemismos.

Mas, meus caros, a sociedade, para o bem ou para o mal, vai por aí. Nem tudo é mau, nem tudo é bom, antes pelo contrário.

8 de abril de 2024

Pároco em visita aos doentes

Com a minha idade e o correspondente caminho andado, já não me prendem preocupações de fazer, dizer ou escrever coisas com o propósito premeditado de agradar a gregos e a troianos, a este ou àquele. Por isso, sem fretes ou paninhos quentes, mas apenas o exprimir de uma percepção muito pessoal, considero que para lá das opiniões sustentadas ou meramente decorrentes de um certo "achismo" andadeiro e superficial, que cada um poderá ter, é de enaltecer a atenção e o interesse dispensados pelo nosso pároco, Pe. António, aos mais velhos, sobretudo aos que na condição de doentes e limitados e por isso normalmente ausentes dos serviços litúrgicos. Parece-me esse interesse genuíno.

Ora este enaltecimento é acrescido pelo facto de tal atenção se alargar às suas três paróquias no que resulta inevitavelmente em mais de duas centenas de pessoas nessa situação, que não é fácil até porque por diversos e alheios motivos, vê gorada a visita. Ora ainda ontem, em Guisande, passou quase todo o dia de Domingo nessa correria, e mesmo já pelo final da tarde, de modo a poder visitar todos antes de uma merecida semana de pausa depois da azáfama que foi a Semana Santa e Páscoa.

Bem haja, por isso!

Concerto da Banda Musical de S. Tiago de Lobão na igreja matriz

 



No contexto do programa "Quatro Estações", a Banda Musical de S. Tiago de Lobão realizou neste Sábado, 6 de Abril, pelas 21:00 horas, na nossa igreja matriz, um concerto designado de "Primavera".

 Foi um momento bonito e acolhedor com a nossa igreja matriz cheia de gente a assistir. Pessoalmente fiquei com pena de ver pouca gente de Guisande. Não há como deixar de o dizer e lamentar,  mas de facto não somos gente de ir à missa da cultura.

Parabéns à Banda e a todos quantos tornaram possível este momento.