A Chica partiu. Repousa agora ao fundo do quintal, entre moutas de cidreira e ervas de S. Roberto e à sombra dos loureiros. A chorá-la terá sempre um regato, lamuriento, que passa logo à beira, um pouco abaixo.
Fica o consolo de ter tido cá por casa (desde que, ali por volta de 2009/2010, apareceu pequenita - foto abaixo -, sem se saber de onde) quase uma década de anos bem vividos e felizes, nada lhe faltando, nem mesmo o esforço emocional e financeiro de ainda se poder fazer algo num final em que problemas de saúde se agravaram muito rapidamente. Possivelmente mazelas de três semanas em que desaparecida ou rapinada, deixou de aparecer por casa antes do último Natal. Já quando se tinham perdido as esperanças, entrou de rompante em casa, magra, debilitada e faminta. Recuperou, passou o Natal em casa e como de costume entrava no presépio pernoitando ao lado do burro e da vaca, certamente também a aconchegar o Menino Jesus, sempre frio na sua túnica de barro. Depois disso teve uma recaída mas novamente cuidados veterinários devolveram-na à rotina diária, sempre perto de casa.
Mas pronto, agora partiu, não sem surpresa pois ainda há poucos dias andava na sua rotina habitual. Como um familiar chegado, a Chica deixa saudades e uma mágoa de tristeza e vazio. Mesmo tentados a recordar os momentos e peripécias alegres de um já passado, as suas manchas pretas laterais que pareciam dois grandes olhos, o seu rabo preto a terminar num branco pom-pom, que agitava sempre que lhe chamávamos pelo nome, só agravam a tristeza.
Fica a saudade de uma gata, que até nunca foi de mimos ou de deixar passar a mão pelo pêlo. De algum modo de uma natureza algo selvagem e daí o ter sido sempre livre. Afinal, cumpriu o seu destino de gato. Dorme agora à sombra do loureiro que algumas vezes trepou sorrateira à cata de algum pardal distraído.
Fica a saudade de uma gata, que até nunca foi de mimos ou de deixar passar a mão pelo pêlo. De algum modo de uma natureza algo selvagem e daí o ter sido sempre livre. Afinal, cumpriu o seu destino de gato. Dorme agora à sombra do loureiro que algumas vezes trepou sorrateira à cata de algum pardal distraído.
É certo que um animal não merecerá nunca mais feição e carinho que uma pessoa, mas também, principalmente quando ao longo de dez anos faz parte da casa e da família e vive e partilha os momentos bons e menos bons.
6 de Junho de 2018