Em certa ocasião alguém terá perguntado a Galileu Galilei: - Quantos anos tens?
- Cinco, oito ou dez... - respondeu Galileu, em evidente contradição com as suas rugas, cabelo e barbas brancas.
Mas justificou:- Tenho, na verdade, os anos que me restam de vida, porque os já vividos não os tenho mais.
É verdade, muitos o sabem, faço anos neste emblemático dia 1 de Novembro, dia que a Igreja consagra a todos os Santos e Santas. E todos os anos, invariavelmente, sou cumprimentado por isso. Alguns cumprimentos sentidos, sobretudo de familiares e outros de circunstância, mas igualmente saborosos. Todavia, há sempre um misto de sentimentos porque, pelas características do dia, sou cumprimentado em pleno cemitério, onde me encontram. E assim, não apenas a partir dos 50 anos e da tal curva do tempo e da vida, em que supostamente o percurso passa a ser de descida (sabe-se lá se aos céus se aos infernos), em tal cenário receber um cumprimento de parabéns lembra-nos de forma mais vincada a efemeridade da vida e o nosso inevitável destino terreno, ali, envolto em terra fria e sob uma pesada lápide de granito. É certo que em face da nossa crença e fé, aspiramos a que haja uma segunda vida, porventura mais gloriosa e menos infernal do que esta terrena, mas isso é apenas fé e tantas vezes fezada, pelo que sem certezas desse lado místico ou espiritual, importa que procuremos fazer desta vida terrena, enquanto por cá andamos, um pequeno céu. Por isso, a amizade e cordialidade entre outros bons valores humanos são sempre rumos certos que devemos procurar seguir e transmitir. É verdade que somos de barro fraco e nem sempre suportamos as pequenas ou grandes colisões do dia-a-dia, mas se formos capazes de fazer algum esforço nesse sentido, pelo menos não teremos passado pela vida em vão. Não temos que passar a constar nos livros da História, não que sejamos fracos, mas , porra, pelo menos justificar uma ou outra lágrima sentida de quem por cá fica.