Nesta altura do ano, Verão, os incêndios tornam-se o "pão-nosso-de-cada-dia". É mais do mesmo! Abrem e fecham telejornais, fazendo esquecer a Covid, a Guerra na Ucrânia, os caos nos aeroportos e SNS.
Como alguém disse, nunca houve tantos meios, tanto dinheiro, tanta coordenação, tantos bombeiros com formação, tanto especialista em teatro de operações, até o presidente da república, nem tantos meios terrestres e aéreos. Nunca houve tantas proibições nem tantas obrigações e, contudo, os incêndios são cada vez mais, e ano após ano temos esta persistente realidade de que as coisas não mudam ou se sim, para pior.
E de quem é a culpa? O Governo diz que são as pessoas, como se fôssemos todos irresponsáveis, bandidos e criminosos. As pessoas dizem que são os criminosos e os lobies da indústria dos incendios (bué de lucrativa). As pessoas também dizem que é do Governo, das Juntas, das Câmaras e das autoridades, que multam uns e não multam outros. Obrigam uns a limpar a erva e permitem a outros as manchas compactas de arvoredo a cobrir as estradas (Em Guisande é um fartote). Enfim, um rol de culpas, responsabilidade e incompetências. Todos com e sem razão.
Mesmo que os javalis não fumem nem os texugos usem roçadoras nem os coelhos façam churrascadas, a verdade é que os grandes incêndios, aqueles que têm impacto, deflagram invariavelmente a altas horas da noite e mesmo de madrugada, em que são detectados mais tarde e os alertas transmitidos quando a dimensão é já grande. Mas aqui o Governo desvaloriza e continua a apontar baterias para a irresponsabilidade dos cidadãos.
Por sua vez, os criminosos, tantas vezes apanhados em flagrante, são ouvidos em Tribunal e postos cá fora para dar continuidade à actividade, quando deviam ser obrigados a irem de férias para a Gronelândia nos meses de Verão.
E não! A culpa não será também das alterações climáticas, porque se é certo que os verões são cada vez mais secos, certo é que já nos antigamentes os meses de Verão eram muitos quentes e também havia vagas de calor. Mas havia uma coisa que agora não há: Limpeza sistemática das florestas e áreas agrícolas e seu total aproveitamento económico, mesmo que ao nível familiar. Tudo no mato era aproveitado, desde o tojo aos gravetos, ramos, caruma dos pinheiros e folhas. Era uma maravilha caminhar pelos matos. Pareciam campos. Um incêndio por esses tempos eram mesmo uma coisa rara e havia mais gente a trabalhar nos campos e matos, o que agora se proibe. Credo, em cruz! Passear nos matos? Nem pensar!
Hoje em dia é o que se vê: Os modos de vida alteraram-se, dizem que para muito melhor, e por isso já ninguém precisa de andar ao mato ou às pinhas. Assim, a floresta cresce de forma selvagem, acumulando-se matéria combustível ano após ano, até que venha novamente o fogo para limpar e o ciclo recomeça. 2+2=4.
O Governo prefere pagar todos anos balúrdios de milhões à indústria dos incêndios, em vez de promover e subsidiar as limpezas e acções de vigilância e prevenção. O Governo proibe e obriga, muitas vezes de forma contraditória, retirando capacidade de ganho económico a quem tem propriedades florestais, pequenas ou grandes, levando ao seu desinteresse e abandono.
O Governo não se impõe no ordenamento da floresta e não tem política florestal. Vai-se falando disso sempre que a coisa dá em tragédia. O Governo não limita nem reduz a mancha de eucaliptos nem promove a obrigatoriedade de plantar árvores autóctenes de modo a contrabalançar gradualmente a diversidade dos povoamentos florestais. O Governo não promove a abertura e alargamento de caminhos, estradões e aceiros. Enfim, um Governo ou Governos que, mandato após mandato, se mostram ineficazes apesar de muita conversa para adormecer burros.
Por conseguinte e em resumo, as coisas são como são e cada vez vão ser mais do mesmo até que o país seja uma macha cinzenta. Afinal, o que não tem remédio, remediado está!