Pelo início dos anos 1990, tivemos no jornal "O Mês de Guisande" uma interessante rubrica designada de "Gente Nossa". Grosso modo, através dela pretendia-se transmitir testemunhos na primeira pessoa de gente da nossa terra com carácter e personalidade, a começar pelos mais velhos. Não foram muitas as edições, não porque não faltasse matéria prima, mas porque no entretanto o jornal acabou por suspender a sua publicação.
Mesmo assim recordo-me de conversas com o Sr. Joaquim Dias (Ti Jaquim do Pisco), o Sr. Belmiro Henriques, a Ti Ana, mãe do Sr. Manuel Alves, e outras figuras mais. Tinham por esse tempo idade avançada pelo que, naturalmente decorridos pelo menos 30 anos, já partiram e deles subsistem as saudades e memórias.
E tanta mais boa gente que já partiu e que certamente poderiam ter transmitido na primeira pessoa muitos e interessantes testemunhos de vida. Mas as coisas são como são e por mais que queiramos não podemos reter numa mão fechada ou mesmo nas duas, o mar ou a água de uma fonte.
Neste contexto, apesar disso, podemos e devemos sempre que possível falar das boas pessoas, tanto das que já partiram, como mesmo das que felizmente ainda temos o privilégio de as ter e ver por cá e as considerar gente nossa. Certamente que todos com muitos defeitos mas igualmente com outras tantas virtudes e que no caso importa que sejam enaltecidas.
Assim, permitam-me vocês e sobretudo ele, que fale aqui um pouco da figura guisandense que é o Sr. Inácio Silva, para outros o Resende e para muitos o Inácio das Tintas.
Ontem, já quase no final da sexta-feira da Festa do Viso, cruzei-me com ele, já a sair e disse-me que completava 79 anos de idade.
Apesar de eu já estar com uns bons canecos, porque nestes dias toda a malta quer pagar rodadas a rodos, creio que ainda consegui reter a idade que me disse ter. 79. Mas em rigor, mais ano, menos ano, pouco interessa. Fez anos e tem os que tem. E como não lhe apareci, ficou de liquidar as contas na roda para hoje. De resto, quanto aos anos, como alguém diz, os que já passaram já não os tem. Tem os que faltam vir e viver e que naturalmente desejamos que sejam ainda muitos e bons.
O Sr. Inácio é boa praça, com um estilo e personalidade muito peculiares mas que destaco sobretudo a sua sempre boa disposição e optimismo que transmite. Incapaz de guardar rancor ou ressentimento, está sempre receptivo à camaradagem. Quanto está já um bocadito "passado", e é preciso muito para molhar a vela, é capaz de nos repetir vezes sem conta as mesmas e boas histórias pessoais, mesmo as que passou em França, onde fez vida e cimentou a família, mas é sempre um bom companheiro e não se nega a um bom convívio, seja com os seus na sua quinta de Vila Maior, onde se delicia com os frutos do seu trabalho, seja com os amigos na mesa de um café ou num evento na comunidade. Não faz cara feia nem torce o nariz, e marca presença sem salamaleques.
Conheço-o sobretudo desde meados da década de 1980 quando esteve quase a vencer as eleições autárquicas, pelo CDS, e que acabou por fazer parte da Junta de coligação com o PSD, ao lado de Manuel Alves e do meu sogro, Germano Gonçalves. Soube adaptar-se e no geral apesar das condicionantes, fez um trabalho meritório embora nestas coisas nem sempre quem trabalhe de forma dedicada receba os louros ou reconhecimentos. No geral, é precisamente o contrário. Mas respeitou e creio que foi respeitado.
Quando casei, em 1988, participou no meu casamento, não convidado por mim, já que então não me era chegado, mas pelo meu sogro, porque se respeitavam enquanto amigos e colegas de Junta e por isso tenho disso uma boa e feliz memória.
Posto isto, O Sr. Inácio desculpar-me-á este atrevimento de falar dele publicamente, mas faço-o com à vontade porque tenho naturalmente por ele, estima, simpatia e consideração.
Seja pois um feliz aniversário e que venham mais e bons e sempre com a boa disposição, saúde e vontade de viver e conviver. Afinal a vida também se pinta com tintas de alegria, amizade e boa disposição.
Bem haja, Sr. Inácio