17 de dezembro de 2023

Quando do Natal se faz um Carnaval

 












Não deve haver nada com mais de espírito natalício que o encher o centro de uma vila com barulho, ruído e fumo de gasolina e obstrução ao trânsito. Polícias, nem vê-los. Mas quando o Natal se confunde com o Carnaval tudo é possível. Por estas e por outras o Natal já foi um ar que lhe deu...

16 de dezembro de 2023

Colorido

 





Grupo Solidário - Ceia de Natal 2023

Conforme préviamente anunciado, com lotação esgotada, realiza-se na noite de hoje, 16 de Dezembro de 2023, a já tradicional Ceia de Natal promovida e organizada desde 2015 pelo Grupo Solidário da nossa paróquia. O evento decorrerá nas instalações do Centro Cívico do Centro Social, no Monte do Viso, após a celebração da missa vespertina que terá lugar na capela, pelas 18:00 horas.

Trail da Aletria - 1.º e último

 



Trail da Aletria. Classificação: Geral: 1.º e último. Escalão M60: 1.º e último.

Uma bombástica e épica prova que me fez levantar o ego, o pénis e a auto-estima. Uau! Awsome! E baratinho, sem consumo de água, nem de powerades, redbulls,  de géis, de gelatinas, de barritas ou de suplementos xpto à campeão.

Fora de brincadeiras, e publico isto só para dois ou três amigos, porque quem andou não tem para andar, foi um treino solitário e esforçado numa bonita manhã de sábado. Amanhã sai a bicicleta!

15 de dezembro de 2023

Já não há dramas

O Ezequiel, o Sr. Oliveira como gosta que o tretem, reformado que está depois de passar o negócio das tintas ao genro, mantém ainda velhos costumes de quando foi presidente da Junta de Gueifães e assim, logo que levantado, em caminho para o Central, o único café da aldeia, montava o seu velho mercedes e lá ía dar uma volta completa e demorada pelas ruas da freguesia como um dono a assegurar-se de que tudo estava nos conformes, no seu lugar. Sim, porque mesmo que minguada de gente, a aldeia não era coisa de correr em dez minutos e por isso, se chuvia ou ventava, havia sempre umas sarjetas a mandar limpar, um muro tombado a exigir reparação, uma árvore atravessada a ser removida, uma água a alagar os baixios a ser desviada. Mas também gostava de encontrar alguém e, mesmo sem saír do carro, meter conversa, mais para tirar nabos do púcaro e a pensar na popularidade que renderia votos na reeleição do que por motivo franco.

Mantém esse hábito o Sr. Oliveira e ainda hoje, mesmo que já não todos os dias nem se preocupando agora com sarjetas entupidas ou derrocadas nas cruvas, ainda dá as suas voltas pela freguesia mas, mesmo que as dê pela fresca matina ou a meio da tarde, o resultado é quase sempre o mesmo mas com uma diferença: Tudo continua no mesmo sítio mas gente com quem conversar, e sobretudo bons conversadores, é que já não se encontra e as ruas cada vez estão mais desertas. Alguns reformados que antes ainda se viam a cavar na horta ou a podar umas videiras, com quem seria fácil meter conversa, estão agora pelos lares entretidos com actividades escolares como se voltassem a ser crianças.

Assim, invariavelmente desconsolado, lá chega ao Central para tomar o café, também ele à semana quase deserto de gente, com um ou outro surumbático a ler o jornal de fio a pavio, como o cunhado, o Nando da Micas, que nem sequer levanta os olhos para cumprimentar quem entra ou o Alfredo a foder a pensão nas raspadinhas. Ao fim de semana, sábado ou domingo, sempre se encontra mais gente mas mesmo assim não é como dantes em que era certinho e direitinho que se encontrasse o Neca do Pinho tinha ali conversa para uma ou duas horas mesmo que tantas vezes a repetirem-se histórias e episódios antes contados. Ali no Central ou junto à porta dele onde de propósito parava, gostava de ouvir o Pinho, figura austera e culta de ler jornais e ver telejornais, ainda na sua altiva pose de sargento que foi na tropa. Reconta-lhe pela enésima vez episódios a merecerem barrigadas de riso ou bocas abertas de espanto como a luta que na sua várzea travou com o Adelino, seu confrontante, em que ora por uma questão de águas, ora por uma disputa de passagem de servidão, lá se engalfinharam e puxando do canivete com que nas merendas lascava salpicão e queijo lhe subtraiu meia orelha e só não lhe cortou o pescoço porque o canivete não dava para tanto, mas que tivesse ali à mão a catana ou o foucinhão e seria de um só golpe.

Esta e outras histórias, do Pinho, mas também do Zeferino, do Fanecas e de outros mais castiços da aldeia, gostava de ouvir o Ezequiel que depois, como bom contador que era, lhes acrescentava, aos contos, os pontos necessários para lhes aumentar os enredos dramáticos ou contornos de comédia, conforme lho pedisse a plateia que o cercava quando o Central tinha clientes bastantes.

Mas o tempo passou e o Ezequiel está mais velho, o Pinho e companhia já foram à vida e já não há quem ajude o velho autarca a não só a matar o tempo que tem de sobra como para lhe aumentar o rol de histórias a meterem zangas entre comadres, disputas entre vizinhos, ameaças entre confrontantes de matos e leiras, lutas políticas e partidárias, segredos da sacristia e provocações de adeptos da bola.  Nada! Uma triste tristeza os tempos de agora em que falta gente capaz. Dos mais novos parece que já nada têm que contar e que a vida lhes passa sem qualquer desassossego, sem dramas, misérias ou estados de alma que sejam dignos de ser contados e recontados. E se os há, já não são confidenciados em surdina e sob jura de segredo ao Ezequiel. Quem quiser agora saber destas coisas, de novidades das gentes da aldeia, das sua vaidades e invejas, tem que andar a chafurdar pelas redes sociais, pelo Facebook. 

Ora o Ezequiel Oliveira sempre se teve em conta como pessoa culta e bem formada mas com as novas tecnologias é que nunca passou de um zero à esquerda e já é atrapalhação bastante o ter que usar o telemóvel a fazer e receber chamadas, quanto mais para andar nessas coisas de facebooks. 

Mas é pena, pois o Ezequiel era um bom guardador de memórias mas o tempo, os novos, não se compadecem com estas coisas, com estas virtudes e actualmente já são poucos os bons conversadores e sobretudo os que têm algo para contar. Hoje em dia andamos todos tão igualmente formatados que até parece que feitos da mesma massa e forma. Ora os que destas bases saem desformatos, com algum defeito de fabrico, são, como na cunhagem de moedas, peças raras e valiosas. Difícil e pôr-lhes os olhos em cima.

Tem que se conformar o Ezequiel porque estes são tempos novos e diferentes e quanto a conversas e conversadores, estamos conversados!

Sem crescimento, sem multiplicação

Há dias, a propósito da tradicional benção dos bebés de colo e de mulheres grávidas na missa da Imaculada Conceição, 8 de Dezembro, data para muitos considerada como o Dia da Mãe, ficamos a saber, pelo menos a ter em conta quem acedeu ao convite e participou, que a nossa freguesia de Guisande tem apenas uma mulher grávida e uma criancinha nascida neste ano da graça de 2023. Mas no dia seguinte, Sábado, afinal apareceu mais uma bebé, que ali foi baptizada.

Em resumo, mais coisa menos coisas, os dedos de uma só mão são suficientes e sobram para contar os bebés que nascem em Guisande em dois anos. Creio que não exagero ou então ando a leste de quanto ao que por cá vai decorrendo no desígnio bíblico do "crescei e multiplicai-vos".

Já o tenho escrito por aqui e não vou de novo esmiuçar razões para este problema de baixa natalidade, que nem sequer é só nosso, da freguesia e do país. É sobretudo da Europa, da nova, porque da velha era gente à fartazana, agora a desertificar-se de naturais, abrindo assim espaço, políticas e metas para poder abrir as portas ou as pernas para uma imigração sobretudo muçulmana, desmesurada e com pouco escrutínio de integração no mercado do trabalho, mas também cultural, social e mesmo religiosa porque invariavlemente a querer impor-se e sobrepor-se. Adiante!

Resulta daqui, que este rio caudaloso de motivos e realidades desagua num mar tempestuoso e de muitas incertezas. A nossa freguesia está a perder população, por isso com falta de crianças, gente nova e daí o inevitável envelhecimento da população. É certo que nos últimos anos construiram-se uma meia dúzia de novas habitações, supostamente com gente jovem capaz de alargar a família, mas por outro lado e em contraponto, são mais as casas que vão fechando, porque velhas e sem moradores ou então casas onde só vivem velhos, viúvos e viúvas, desamparados na sua solidão.

É o que é! Deste modo qualquer projecto ou ideias de grandeza para esta terra choca paradoxalmente com este encolher anual da população. Ademais, dos que vão resistindo poucos são os que mostram vontade e capacidade em qualquer esforço de inversão. Assim seguimos irremediavelmente condenados à extinção, como em tantas aldeias no nosso interior desertificado. Certamente que já não estarei por cá nessa altura mas por ora parece-me uma fatalidade incontornável. O contrário, mas contra-natura, só mesmo com uma nova invasão árabe ou africana.