1 de fevereiro de 2024

Coragem ou falta dela

Em comentário a alguém que pela blogosfera considerou como falta de coragem o facto de Luís Montenegro não defrontar directamente Pedro Nuno Santos pelo ciclo de Aveiro, preferindo encabeçar Lisboa, também acho que deveria concorrer por esse ciclo de residência, e apenas por esse princípio, legítimo. De resto não me agradam paraquedistas a encabeçar listas em distritos onde porventura nunca, ou raramente, lá puseram os pés.

Em todo o caso, em termos meramente estratégicos, parece-me que a escolha de Emídio de Sousa como cabeça-de-lista é acertada. Afinal, é só o presidente da Câmara do município (Santa Maria da Feira) de longe o mais populoso do distrito e que  tem gozado de popularidade bastante para ter vencido com vitórias amplas.

Mas vale o que vale. No resto, no toca a coragem, porque era dela que se falava, gostaria de ver estes candidatos a chefes de governo, Pedro Nuno Santos e Luis Montenegro, mas mesmo líderes de outros partidos, a intregrarem as listas em círculos de menor implantação e em posições de eleição não garantida. Aí sim, era de homens e, claro, de mulheres. 

30 de janeiro de 2024

Fonte de emoções

Há muito que me desacreditei da verdadeira utilidade ou motivo fundado das redes sociais, como o Facebook, e assim por entre pausas sanitárias lá vou ganhando fôlego para um novo mergulho e retomando a ligação, já não tanto para beber, que as fontes ou estão secas ou inquinadas, mas apenas como alguém idoso que à sombra de um beiral de uma casita de esquinas coçadas de algumas das nossas aldeias interiores e quase desertas, ainda aponta com sentido de utilidade a direcção certa para uma sítio ou curiosidade que um ou outro turista de roteiro nas mãos procura mas não encontra. - Ali à esquerda, ao fundo daquela vereda e depois a cerca de 100 metros a subir, corta à direita e vai descendo até encontrar do lado esquerdo! Não tem que enganar!

Em suma, já pouco de verdadeiro e de talento próprio que mereça a atenção, ali desagua, mas de quando em vez lá surge um vislumbre de que ainda há gente que para lá do seu umbigo partilha coisas interessantes e em resposta alguém expressa reconhecimento, acrescenta valor ou até se emociona. 

Ainda há dias, fora da lista de "amigos", alguém partilhava por cá um pedaço de prosa do José Saramago, a parte inicial do seu discurso aquando do recebimento do Nobel da Literatura, a descrever os seus avôs e os seus modos de vida e de pensamento parante a mesma, a ponto de dormirem com os porcos pequenos na mesma cama, não por questões de afecto mas tão somente para, preservando-os do frio, aumentar as suas possibilidades de sobrevivência e que depois de criados e vendidos seriam eles próprios pão-nosso-de-cada-dia dos criadores. A este pedaço de prosa, que poucos leem porque mal habituados a frases curtas e grossas, alguém respondeu "...que emocionante". 

Sim, de facto, até eu que não tenho em Saramago a leitura mais favorita, quando já havia lido o seu discurso, deliciei-me de princípio ao fim e também me emocionei, não pela qualidade da escrita mas por toda aquela cena, aquele quadro de vida, ser autêntico e com gente verdadeira. Era na Azinhaga do Ribatejo mas poderia ser aqui em Guisande, no Viso, no Reguengo ou em qualquer outro lugar no tempo dos nossos avôs e bisavós. A vida era de miséria e trabalho duro mas era plena e na mais profunda ligação entre o ser humano, a terra e os animais. Não tenho memória de lá por casa se ter dormido com porquinhos mas dormiu-se várias vezes no aido ao lado vacxa que estaria para parir.

Também eu, de talento escasso face à grandeza de Saramago, poderia aqui tentar descrever cenas desse tempo, de gente dessa cepa retorcida, em que nos poucos momentos em que o corpo não podia recusar o descanso, as noites eram passadas a olhar um tecto de estrelas e apesar da ignorância das letras e das ciências, o homem de antanho questionava Deus sobre todas as coisas e o sentido delas. Se antes de adormecer o corpo cansado era todo ele um poço de dúvidas, logo que volvidas poucas horas e o sol já a despontar pelos pinhais, a bater nas janelas ou por entre as folhas da árvores da horta, tinha na ponta da língua todas as respostas ao que era preciso fazer para mais um dia assegurar a sua sobrevivência e dos seus. Cuidava dos animais e dos filhos com o mesmo peso e medida e das coisas da terra tratava como um mestre, esclarecido e sem dúvidas. Se delas  persistia uma ou outra num momento de distracção dos afazares, à noite voltaria a questionar o Criador. 

A fonte das emoções jorra caudalosa mas são poucos aqueles que dela se abeiram com sede.

Atrás dos sonhos a coxear


Amiúde, porventura com uma frequência que mais que incentivar só banaliza, lá vamos ouvindo e lendo que não devemos deixar de ir atrás dos nossos sonhos e que importa sempre não desistir de lutar por eles. O que não falta nos livros são pensamentos sobre os sonhos, mais ou menos lineares ou filosóficos como o de Fernando Pessoa: "De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos despertos" ou do António Gedeão com o intemporal "O sonho comanda a vida" no poema da "Pedra Filosofal".

Mas qual quê? Todos os sonhos ou só aqueles que é lícito pensar como exequíveis e no tamanho da nossa natural passada? É que também sempre fomos ouvindo como conselho que não é sensato dar passos maiores que as pernas, vender cabritos de cabras que não temos e que quem alto sobe mais dói a queda. Há ainda a fábula do sapo que queria ser boi a ponto de se insuflar até estourar. Como se não bastasse, ainda a realidade pura e dura sempre a dar lições mesmo que nem todos queiram aprender.

Além do mais, ouvir tais conselhos em ir atrás dos sonhos por parte de quem vive num mundo de fantasia, onde as nuvens são cor de rosa como as revistas que existem para falar deles próprios, não é lá grande pistola. Ou isso ou ler com todas as letras em livros de auto-conhecimento e auto-ajuda, como se os seus autores sejam gente experiente tanto na na caça aos sonhos como aos gambuzinos, desinteressada e metida a distribuir incentivos como a repartir fortunas ou a ensinar os truques e segredos de como as alcançar. Sempre fiquei de pé atrás quanto a maluquinhos que vendem a troco de tostões curas milagrosas, receitas milionárias, galinhas de ovos de ouro, heranças de príncipes tribais africanos, etc. Mas isto sou eu e poucos mais, porque no geral o que não faltam por aí é vítimas de sonhos, de aldrabices, contos do vigário, vendedores de banha da cobra, desde os mais suspeitos aos mais respeitáveis atrás de balcões de instituições, bancárias incluídas. Mas pior do que essa gente "preocupada" com os nossos sonhos é haver quem, mesmo acordada e de olhos abertos, se deixe embalar no dorso de unicórnios e cristas de dragões.

Os sonhos, para além dos aspectos e interpretações filosóficas e poéticas, são isso mesmo, sonhados a dormir ou  bem acordados, mas quase sempre longínquos e inalcançáveis que não por sortilégio de muito trabalho, de um grande prémio nos jogos da Santa Casa ou de ambos. Ora nos dias que correm poucos são os que chegam aos calcanhares dos mais ambiciosos sonhos apenas com vontade, trabalho e dedicação. No resto andamos todos a sonhar acordados, a fazer viagens a tudo quanto seja canto neste planeta esférico, a olhar as horas em relógios de ouro, a passar umas noites com as mais belas modelos, a pernoitar nas mais luxuosas suites, a ter segundas e terceiras casas em paraísos turísticos, um portefólio de máquinas como motos, carros, iates e jactos.

Ora, ora! Isso será apenas para alguns, pelo menos para o 1% das figuras que detêm 99% da riqueza mundial, onde talvez para além dos Musks, Gates, Bezzos e Zuckerbergs, estejam por lá o Ronaldo e o Messi. Para os restantes 99% resta-lhes, quando muito, irem sonhando os sonhos dos outros.

Não fora a importância da realidade e do ter ambos os pés bem assentes na terra, e também eu andaria ocupado a correr atrás de certos sonhos. Mas porque raio não sonho em ter fortuna material, casas, carros, motas, relógios e milhões no banco? Logo só me dá para sonhar em voar como as águias, correr como um alazão, saltar como o Spiderman, poder tornar-me invisível, viajar através do tempo, percorrer pelo universo como o Superman, etc, etc, como se fora um dos milhentos herói da Marvel. Que raio de sonhos! É que para estes não há receita que os transformem em realidade e por isso só mesmo sonhando, de preferência a dormir.

Em resumo, a mim, e creio que a todos, bastará ter saúde e ser feliz com o que temos, usando de honestidade e honradez e sem prejudicar os demais, mas haverá sempre quem ache isto sonhar rasteiro e sinal de falta de ambição e daí não surpreende que os sonhos de uns se concretizem com o atropelo e pesadelo de outros. Talvez por isso haverá sempre e cada vez mais no nosso modelo de sociedade ocidental uma legítima justificação dos meiso face aos fins, como parafraseava Maquiavel. Talvez...

29 de janeiro de 2024

Poesia?


Soubesse eu de poesia. Num quarteto, soneto ou ode, pronto soprava para longe o nevoeiro que cega e entontece. Soubesse eu, mas não sei.

Cavo na prosa, que não é de brisas, antes de pesos, arrastos, algemas e grilhetas. Desconhece a inspiração. Nada lhe vem do alto ou do sublime, é obra de enxada em terra dura, com morosidades de boi antigo nas voltas da nora.

Obriga-me a escrever beijo, quando por vontade escolheria ósculo. Falo de lusco-fusco, envergonhado de dizer arrebol. Mas poeta não é qualquer, nem quem quer, só aquele que as Graças favorecem.


J. Rentes de Carvalho

Eufemismos, penso eu de que...

Não deixa de ser um eufemismo, no mínimo engraçado, que alguém com 86 anos de idade e presidente  de um clube há mais de 40 anos, numa governação em rigor sem oposição de peso em actos eleitorais , se recandidate a um novo mandato com uma premissa de "renovação" e logo quando do outro lado o candidato que lhe ousa fazer frente é gente jovem. 

O passado, a experiência e as idades dizem sem esmorecimento que é mais do mesmo, mas o sentido que queremos dar às coisas ou às palavras valem  o que valem. Se dizem que será "renovação", seja. Não os contrariemos. O teste do algodão não engana e nestas como em muitas outras coisas só se deixa enganar quem de tal gostar. De resto, pela consideração e quase idolatria à figura em questão pela maioria da massa adepta, para voltar a vencer mesmo que com a oposição de um jovem, não tinha necessidade de trazer a "renovação" à equação porque cheira a falso. Bastaria dizer que continuaria a ser ele próprio e mais do mesmo porque a receita consideram-na positiva. Não havia, pois, necessidade do pingarelho da "renovação" até porque só serve para enganar tolos. Mas compreende-se porque a idade não perdoa.

Enganem-nos, que eles gostam!

O talento já foi chão que deu uvas


O talento pode ser definido como uma habilidade natural ou aptidão excepcional para realizar alguma atividade com destaque, muitas vezes demonstrando facilidade e excelência em comparação com os outros.

Além disso, o talento pode ser inato ou desenvolvido ao longo do tempo por meio de aprendizagem, prática intensiva e experiência. Ele pode manifestar-se em diversas áreas, como artes, desportos, ciências, e muitas outras, contribuindo para o sucesso e realizações individuais. O reconhecimento e cultivo do talento são fundamentais para o crescimento pessoal e profissional de uma pessoa.

Durante muito tempo a expressão do talento era ela própria, inconfundível, intrínseca. Quem o tinha, tinha e quem não, não. Mas desde há alguns anos e sobretudo agora com as ferramentas tecnológicas e a Inteligência Artificial a dar cartas, tanto ao nível do conhecimento em geral como na capacidade de produzir conteúdos gráficos, num instante somos todos artistas e criativos e um qualquer Zé da Esquina que nunca foi capaz da mais singela criação artística, ao nível de uma criança no Jardim de Infância, é agora poeta, desenhador, pintor, fotógrafo requintado, etc.

São, pois, tempos perigosos estes em que os vendedores da banha da cobra misturam-se a fazem-se passar por talentosos criativos. Os Photoshops vieram retocar e transformar o velho em novo e feio em bonito, mas até aí era necessária capacidade e mesmo talento para o processo. Apesar da perversão, são talentosos os pintores que falsificam quadros. Já com a AI (Artificial Intelligence) e com os inúmeros serviços que dela se aproveitam, basta pedir à lista o que se quer, desde um quadro com uma criancinha a dormir com um gatinho, uma paisagem deslumbrante ou exôtica até uma Taylor Swift em poses pornográficas, como tem sido noticiado, com milhões de visualizações, levando a indignações e reacções como a do CEO da Microsoft, Satya Nadella, que afirmou numa entrevista que considera “alarmante e terrível” a perspectiva de começarem a circular imagens geradas por Inteligência Artificial de nudez não consensual. 

Certo é que mesmo apesar das entidades governamentais e reguladores mostrarem que estão preocupadas com as perversidades da IA, a verdade é que a bomba já foi lançada e os estragos são e serão irreparáveis porque a experiência diz-nos que isto não vai parar. Poderia parar numa China, Rússia ou Coreia do Norte, mas não nos países onde a democracia não consegue cortar certos males pela raíz ou desfazer conceitos politicamente correctos. No fundo, para o bem e para o mal, temos que colher o que semeamos.

Neste contexto, neste mundo inundado de "merda talentosa", como diz uma certa cantiga (creio que de José Augusto), "Agora aguenta coração".

28 de janeiro de 2024

Nota de falecimento - Maria Fernanda dos Santos

 


Faleceu Maria Fernanda dos Santos, de 76 anos de idade [30 de Março de 1947 a 27 de Janeiro de 2024] que residia na Rua do Cruzeiro, lugar de Fornos - Guisande. 

Filha de Joaquim António dos Santos e de Gracinda dos Santos Serralva. Neta paterna de Manuel António dos Santos e de Joaquina Gomes de Jesus e neta materna de Domingos dos Santos Serralva e de Margarida Felizarda de Resende.

Mãe de Maria Isaura dos Santos Mota, Baltazar Manuel dos Santos Mota, Adélio dos Santos Mota, Idalina Fernanda dos Santos Mota, Rosa Maria dos Santos Mota e Inácio António dos Santos Mota (falecido)

O funeral terá lugar na próxima Terça-Feira, 30 de Janeiro pelas 16:00 horas com cerimónias na igreja matriz de Guisande, indo no final a sepultar no cemitério local.

Missa de 7.º Dia na próxima Sexta-Feira, 2 de Fevereiro de 2024 na igreja matriz de Guisande pelas 18:30 horas.

Sentidos pêsames a todos os familiares, de modo particular a seus filhos. Que Deus a tenha em eterno descanso!