15 de fevereiro de 2024

Quaresma - Caminho de introspecção

A Quaresma, um período, um caminho de quarenta dias, é o tempo que na liturgia católica antecede a celebração da Páscoa, oferecendo uma rica reflexão teológica e filosófica. Associada à penitência, reflexão e preparação para a celebração da ressurreição de Cristo, ela convida os fiéis a uma renovação da sua fé, à purificação espiritual individual para uma renovação do compromisso com os valores do Evangelho.

Filosoficamente, a Quaresma é um convite à introspecção e autoconhecimento, convidando-nos a examinar as nossas vidas, escolhas, relacionamentos e prioridades. Ela lembra-nos da natureza efêmera e transitória da vida humana, convidando-nos a viver de acordo com nossos valores mais profundos e procura de uma vida de significado e propósito.

Ao mesmo tempo, a Quaresma oferece esperança e promessa de renovação. Assim como a Primavera segue o Inverno, a Páscoa segue a Quaresma, simbolizando a vitória da vida sobre a morte, da luz sobre as trevas. É uma mensagem poderosa de que, mesmo nos momentos mais sombrios de nossas vidas, há sempre a possibilidade de renascimento, transformação e ressurreição.

14 de fevereiro de 2024

Eternamente namorados


Num destino que Deus tece,

A idade, a vida, amadurece,

Mas antes da fruta, a flor,

Com ou sem perfume ou cor.

Desejo de abundância, prece, 

Generosa a colheita acontece

Na prosperidade de cada dia,

Amor, na tristeza ou n´alegria.

Faleceu o Manuel da Viola

Dos velhos assentos paroquiais de Guisande, um curioso assento de óbito feito pelo pároco Manoel Rodrigues da Silva, de um Manoel Ferreira, mendicante (mendigo) do lugar de Gueifar da freguesia de S. João de Ver, considerado como falto de juízo, que faleceu na noite de Sábado para Domingo de 11 de Outubro de 1761, onde se encontrava num palheiro pertença de um Pedro de Oliveira. Está escrito que "somente recebeu o sacramento da extrema unção por não estar em seu juízo além de  que nunca o teve perfeito".

Apesar disso e dessa condição de mendigo, pobre e itinerante, teve ofício fúnebre com cinco padres e foi sepultado dentro da nossa igreja matriz.

Finalmente é dada a informação que o mendigo tinha como alcunha o "Manoel da Viola".

Tio Neca

Foi hoje a sepultar, em dia de cinzas, num simbolismo cristão e dobrado da nossa essência, a de condição de pó que à terra retorna, para em pó se transformar. Persistem a alma e a memória.

Não sei a quem, creio que ao Sr. Albertino, mas a alguém passou o testemunho do homem mais velho da nossa comunidade. É o ciclo da vida.

Partida


No vagar dos dias adventos,

Num tempo límpido, primeiro,

Era a promessa da existência

De quanto aos olhos subsiste;

Mas esvaíram-se em momentos,

Dias e anos, o tempo inteiro,

Uma vida, toda a essência,

Resumida a um só dia triste 

13 de fevereiro de 2024

Carnaval em Guisande - Outros tempos

 



Momentos de vivência do  Carnaval na freguesia de Guisande - 1960


Poderão os mais novos pensar que nos antigamentes o Carnaval passava ao lado dos guisandenses, mas naturalmente que não. É certo que sem as modernices actuais, decorrentes da contaminação de carnavais de outras paragens, mas havia alegria porventura mais genuína e popular. 

É certo que em Guisande as manifestações ligadas ao Carnaval nunca foram marcantes nem consequentes e regulares no tempo a ponto de estabelecerem uma tradição com raízes, como, de resto, nas demais freguesias vizinhas. Manifestações mais ou menos organizadas e com regularidade são raras e relativamente recentes, nomeadamente na freguesia vizinha de Caldas de S. Jorge onde o contexto turístico das termas em muito ajudou a essa dinâmica e continuidade, com mais ou menos soluços.

Apesar disso, são conhecidas e ainda lembradas pelos mais velhos algumas carnavaladas episódicas e com preponderância num ou noutro lugar da freguesia e por vezes pelo impulso de uma ou outra figura mais característica desses lugares. As fotos de cima ilustram alguns momentos de crianças e jovens com ligações às dinâmicas da paróquia.

Por exemplo, no lugar do Viso, recordo que nos meus tempos de criança e adolescente, por isso pelos idos anos de 1960 e 1970, o Carnaval marcava sempre presença e sempre com a intervenção da criançada. grosso modo, o grupo tratava com tempo de ir ao mato colher um carvalho de porte adequado, que era arrastado para a borda do Monte do Viso, próximo da escola e ali era fixado ao alto. Depois era um arrastar contínuo de lenha do mato e tudo o que pudesse arder, incluindo velhos pneus e trapos, de modo a amontoar à volta do carvalho, como se de uma árvore de Natal se tratasse. No cimo da árvore pendurava-se um grande espantalho.

Ao princípio da noite, quase sempre após o jantar, era o momento esperado, o acender do fogueirão o qual pela sua dimensão seria visto em toda a parte baixa da freguesia. A imagem acima de algum modo ilustra o que de semelhante então acontecia no lugar do Viso. Claro, escusado será dizer, que quando o dia de Carnaval calhasse num dia de chuva era um cabo dos trabalhos para fazer arder a árvore e aí recorria-se a petróleo e a lenha e moliço secos para ajudar a engrenar. 

Nessa altura do acender da fogueira os mais velhos também vinham assistir. Noutros lugares da freguesia, como Estôze e Casaldaça, também era comum o acender de fogueiras ou borralheiras. Paralelamente, as habituais brincadeiras de crianças com o uso de bisnagas de água, algumas mais sofisticadas na forma de peixe e pistola e que por esse altura se compravam como brinquedos, na quitanda das Quintães. Também, para as meninas, o atirar do pó-de-arroz e outras matreirices. Era sem dúvida um dia de brincadeiras alegres e num tempo em que as crianças brincavam na rua, muito ou totalmente ao contrário do que sucede nos tempos modernos.

Era, pois, um simbolismo genuíno, mesmo que então pouco compreendido, do queimar do tempo velho e a preparação para o tempo novo ao qual se transitava pela carestia da Quaresma, a qual por esses tempos era vivida com algum rigor, no que respeita ao respeito pelo jejum e abstinência bem como da participação nos  serviços religiosos, como a reza do Terço e a Semana de Pregações.

Carnaval dos tolos e dos outros

Ainda bem que há Carnaval. Sem psicanalistas, sem psicólogos, sem terapias, revela-nos de mão beijada os tolos, as nossas taras, manias e paranoias. Alguns não terão conserto, outros sem remédio, mas dizem que é libertador e, pelos menos, ficamos a conhecê-los. Antes folia que Xanax!

Bom Carnaval!