14 de março de 2024

O carteiro já não toca duas vezes


Vão longe os tempos em que o carteiro nos merecia tanta confiança quanto o médico ou o padre. 

Como sou rapaz que já não vai para novo, ainda sou do tempo em que o carteiro andava de bicicleta e quando passava ao fundo do lugar, o toque da sua corneta chamava a gente que esperava carta. Era assim diariamente e quase sempre com pontualidade.

Mas isso já foi há muito, num tempo em que havia a mania das pessoas serem sérias e responsáveis cumprindo a sua profissão, sobretudo quando implicavam serviço público, com honra e sentido de dever.

Hoje em dia todos sabemos  como é que andam os correios, o CTT, numa balbúrdia tal que já nem sabemos se é carne, peixe ou nem uma coisa ou outra. Terá dono? Quem manda? Quem responde pelo reles serviço prestado?

Por conseguinte, pelo menos por cá, anda tudo ao sabor do vento e a correspondência vai sendo distribuiída conforme dá mais jeito. Assim, não raras vezes, alguma dela chega tarde e a más horas e mesmo com prejuízo. Ainda agora, nesta semana, a minha esposa recebeu uma convocatória para um rastreio já depois da data. Mesmo para a entrega de uma carta registada não se perde tempo a verificar se está alguém em casa. É mais fácil e rápido e colocar o aviso de que terá que ser levantada no posto, com a fácil justificação de que ninguém atendeu. 

Certamente que para além de um eventual mau profissionalismo,  no geral os próprios carteiros são vítimas do sistema e desorganização da empresa, que não lhe dá as devidas condições de trabalho e de acordo com as responsabilidades, porque não raras vezes andam assoberbados de correspondência para circuitos extensos e horários apertados.

Com frequência há relatos de atrasos nas cartas de cobrança de serviços, como dos telefones, da água e electricidade, levando, por falta de pagamento atempado, à aplicação de coimas, ameaças de cortes e de todos os incovenientes para pagar depois dos prazos.

Uma autêntica balbúrdia e obviamente que não há como fazer queixa porque é causa e tempo perdidos. Posto isto, e para além da questão da desorganização dos postos, que vão sendo suprimidos ou mudados de poiso, o carteiro já não toca duas vezes e na maior parte das vezes já nem toca vez nenhuma.

13 de março de 2024

Estar na horta e não ver as couves


É velho o provérbio de que andamos sempre a aprender. Independentemente do tamanho do rei que alojamos na barriga, mais ou menos viajados, estudados ou analfabetos, somos levados a concluir que já vimos de tudo no mundo e que já nada nos surpreende na vida e muitos até garantem que já viram um porco a andar de bicicleta, uma vaca a voar ou uma bicha de sete cabeças.

Certo é que passe os exageros e os exagerados, há realmente coisas que, fora do foro da fantasia, não deixam de nos surpreender e se não de completo pasmo ou de boca aberta, pelo menos o bastante para ficarmos a matutar como tal é possível. E o que não faltam são casos ou episódios a merecerem tamanha surpresa. 

E não estou a falar de alguém que, sabe-se lá com que motivação, anda a varrer a estrada em frente à sua porta, o que nem seria descabido, mas para além dela em largas dezenas de metros. Tivesse a Junta de Freguesia funcionários assim tão zelosos e tudo andaria num brinquinho. Ou mesmo se toda a gente varresse a rua na frente da sua porta. Mas o que me prendeu mesmo a atenção com mais espanto, foi o verificar que agora as pessoas enchem literalmente contentores de resíduos sólidos domésticos, incluindo com troços das couves da horta. Atestadinho. E surpreso, porque imaginei que quem tem uma horta com couves galegas saberá que os troços depois de secos até ardem na lareira, numa fogueira ou mesmo adequados para compostagem. Mas não. Bóra lá encher o contentor!

É de facto espantoso ver o que as pessoas conseguem colocar nos contentores do lixo ou junto dos eco-pontos. Já vi de tudo mas um dia destes vamos dar de caras com um porco amarrado a uma velha bicicleta pasteleira ou uma vaca presa a uma bigorna para não levantar voo.

Reunião interparoquial para definição do programa da Visita Pastoral.


Conforme havia sido previamente agendada e anunciada, decorreu ontem, Terça-Feira, 12 de Março, pelas 20:00 horas, na residência paroquial de Pigeiros, uma reunião interparoquial (Caldas de S. Jorge, Guisande e Pigeiros) que contou com a presença do pároco Pe. António Jorge, o diácono António Avelino Valinho e os delegados das três paróquias ao Conselho Pastoral Vicarial, Eng.º António Cardoso, A. Almeida e Paulo Valinho.

A reunião teve como objectivo a elaboração da proposta do programa da Visita Pastoral, pelo bispo auxiliar do Porto, D. Roberto Mariz, que ocorrerá na semana de 24 a 30 de Junho próximo e que culminará com a administração do sacramento do Crisma.

Dentro do possível foram considerados os momentos antes propostos em reuniões com os representantes dos diversos grupos paroquiais. Alguns dos temas considerados abrangem o acolhimento no primeiro dia (de S. João), Segunda-feira, 24, que em princípio será em Guisande, no Monte do Viso e Centro Cívico, com missa campal e convívio partilhado e sardinhada, encontros com os grupos paroquiais e demais colectividades das freguesias e poder local. 

Seguir-se-ão nos demais dias, visita a bairros sociais e encontro com idosos e doentes e grupos de cariz sócio-caritativo, visitas a algumas empresas e comunidades escolares, encontro e convívio de jovens e crismandos, na Várzea - Pigeiros, na Sexta-Feira, 28, encontro com a catequese e encontro com crismandos no Sábado, 29. 

Também as celebrações religiosas  nas diferentes paróquias e mantendo os mesmos horários das missas e finalmente a celebração e administração do Crisma, no último dia da visita, Domingo, 30 de Junho, que deverá ocorrrer na igreja matriz das Caldas de S. Jorge, sendo que antes e nos horários habituais serão realizadas as missas dominicais, tanto em Guisande como em Pigeiros. Será ainda realizada missa campal na festa que ocorrerá no lugar de Azevedo, em honra de N.ª S.ª de Fátima e S. Pedro.

O programa agora esquematizado será ainda apresentado em novo encontro interparoquial a acontecer no próximo dia 21 de Março, pelas 21:00 horas no Centro Cívico em Pigeiros, onde certamente, sob consulta dos presentes, serão ajustados e definidos alguns pontos. Depois, o programa será proposto ao Sr. Bispo, pelo que ficará ainda sujeito a ajustamentos em função da sua agenda. Só depois é que será dado como fechado e divulgado na íntegra.

A reunião de ontem foi demorada mas proveitosa, tendo durado quase quatro horas, já que eram muitas as questões e momentos a definir e enquadrar com ponderação e algum fio-condutor nos diferentes dias da visita.

Padre José Francisco, do lugar das Quintães


Na lista de padres nascidos em Guisande, pesquisada e publicada pelo Cónego Dr. António Ferreira Pinto, na sua monografia sobre a nossa freguesia de Guisande, "Defendei Vossas Terras", de 1936, não há qualquer referência ao padre José Francisco.

De acordo com o recorte do assento de baptismo de José, filho de Manuel Francisco e de Maria Guedes, do lugar de Casaldaça, que nasceu em 29 de Abril de 1737, surge o sacerdote como padrinho e como morador no lugar das Quintães. Não encontrei ainda mais dados sobre este padre e se realmente era natural de Guisande, mas será de presumir que sim. 

A prática de em muitos assentos, sobretudo nos mais antigos, serem omitidos os apelidos das pessoas, e mesmo com os nomes próprios abreviados, não ajuda a deslindar as relações genealógicas. Junta-se à dificuldade a frequente omissão de outros pormenores, como a identificação dos avôs, pelo que é sempre uma tarefa completa a de vasculhar a história, identificar pessoas e seus dados biográficos.

Ainda do lugar das Quintães, existiu o padre José Pinto. Sabemos que em 1769, tinha 79 anos, pelo que terá nascido por 1690. Foi ordenado em 1724. Rebentou-lhe na mão uma espingarda, ficou muito doente dos olhos e nunca fez exame de confessor. Faleceu em 14 de Novembro de 1775, com 85 anos de idade, tendo sido sepultado dentro da igreja matriz de Guisande. Deixou testamento cerrado com bens por alma de seus pais e seu irmão Manuel e instituiu como sua herdeira uma Josefa  Maria, mulher de Bernardo Pereira da freguesia de Lamas, com a obrigação de lhe fazer os bens de alma e pagar suas dívidas. Durante a sua vida foi padrinho de baptismo de vários guisandenses pelo que consta como tal em muitos assentos paroquiais.

Com alguma incerteza mas com grande probabilidade, do que consegui pesquisar, seria filho de António Pinto e de sua mulher Isabel Dias, tendo nascido a 5 de Janeiro de 1684, sendo baptizado a 7 do mesmo mês. Foram padrinhos, José Francisco, do lugar das Quintães e Isabel filha de Gonçalo Pinto, do lugar da Lama. A ter em conta este assento e esta data de nascimento poderá estar errada a indicação acima de que em 1769 tinha 79 anos.

12 de março de 2024

O amor! O que é o amor?


O amor! O que é o amor?
Já o cantaram e choraram poetas,
Despiram-lhe a alma,
Vestiram-no de dramas,
Pintaram-no de risos,
Afogaram-no em lágrimas.

Declamaram que era fogo a arder sem se ver,
Ferida não sentida a doer,
E tudo e em tudo o mais,
No que se possa dizer e escrever.
Será tudo isso, o amor,
Mas mais do que isso o que for
Aquém e além dele.

Porventura, até será tudo ou nada,
Relação de ódio ou apaixonada,
Enlaces e desenlaces
Carnais, entre humanos e bestas,
Num palco universal, teatral,
Numa realidade fingida
Ou num fingimento real.

O amor pode, pois, ser tudo,
Do mais profundo sentimento
À mais serena aragem;
A carícia do vento na seara,
A fonte a matar a sede,
O grilo a cantar no prado,
Um afago macio, um encosto,
A doçura macia do mel,
Na carne o sabor do sal
Uma lágrima a rolar no rosto,
Uma mão delicada na pele
De homem, mulher ou animal.

Quando a morte se hospeda numa casa

Domingos José Gomes de Almeida, foi meu trisavô paterno, casado com Joaquina Rosa de Oliveira. 

Em 6 de Abril de 1894 morreu-lhe um seu filho solteiro, com 32 anos de idade, negociante de madeiras, de nome Domingos Gomes de Almeida. A sua mãe, a referida Joaquina Rosa de Oliveira morreu passados 4 dias, em 10 de Abril de 1894, com 77 anos de idade. E como não há duas sem três, passados outros 4 dias, em 14 de Abril de 1894 morreu o seu pai, o tal Domingos José Gomes de Almeida, com 81 anos de idade.

Não conheço os motivos desta sucessão de mortes, em menos de 15 dias, na mesma casa. Se por desgosto consecutivo da mãe após a morte do filho e depois do pai pela morte do filho e da esposa ou se por alguma circunstância de doença contagiosa ou de outra natureza. 

Provavelmente nunca o virei a saber até porque os assentos de óbito nada dizem a esse respeito. Apesar de morrer jovem o filho, por esses tempos era muito comum o falecimento de gente jovem.

Por outro lado, o pai com 81 anos e a mãe com 77 já tinham umas bonitas idades, tanto mais naqueles tempos quase sem grandes cuidados e tratamentos de saúde, em que a esperança média de vida era naturalmente baixa. 

Por conseguinte, fica apenas a surpresa e a curiosidade pela coincidência, mas é provável que tenha havido uma relação de doença ou emocional

11 de março de 2024

Para a próxima é que vai ser!

O Domingo foi de eleições. Mais umas, no sítio do costume e quase com as mesmas caras  e com igual objectivo de sempre, o de fazer de conta que decidimos o nosso destino. Mas em rigor não decidimos coisa alguma e, conforme já se percebeu pelos resultados, será uma questão de deixar passar a Páscoa, as férias, o Verão, e depois seguir-se-á mais um acto, tão teatral quanto todos os passados e futuros.
Já nada é como dantes. Como nas relações na cama, se a coisa for muito frequente, entra-se na rotina e perde-se-lhe a conta, o entusiamo, e para voltar a aquecer é preciso refrescar. Um trocadilho, um paradoxo, mas afinal como um bom alfaiate a tirar-nos a medida ao corpo para nele caber um fato, as coisas são mesmo assim e hão-de continuar como tal. Somos meros manequins de prova.

Até o dia com chuva e cinzento ajudou a este melancolismo, sem entusiasmo, e a noite encerrou-se sem foguetes nem caravanas a passear entusiasmo tolo ou sentido. Nas televisões um dejá-vu, os habituais lugares comuns, todos a procurarem afirmar que o copo ficou meio cheio porque vê-lo meio vazio é admitir perdas e derrotas. Todos agem como se fossem vitoriosos e até quem não foi a votos foi tido e achado como vencedores ou perdedores. 

O costume, nada de novo. Como diz o Fernandinho, mesmo num dia nublado e com chuva o sol brilha; nós é que não o vemos. Talvez por isso a clássica CDU teime em resistir até à extinção, com um PCP já sem defesa pela foice e martelo gastos, ferido a cada cajadada eleitoral, mas a prometer luta e defesa dos trabalhadores, dos valores de Abril e contra a direita reaccionária, ou lá o que isso seja, como se ainda no ar o odor do Verão Quente e das tropelias do  PREC. Mas nisso, reconheça-se-lhes, são coerentes, e uma formiga há-de sempre fazer comichão ou cócegas nos tomates de um elefante. 
Na próxima, quem sabe se não votarei no Raimundo, que até me parece boa pessoa. Afinal, como dizia o brasileiro Tiririca, "pior do que está não fica". Perdido por perdido...

Viva a liberdade e a democracia que, desde quase há meio século, nos permitem sonhar que para a próxima é que há-de ser. Afinal até um relógio parado tem horas certas duas vezes ao dia. Quem sabe se não será na próxima?