19 de março de 2024

Nascimentos em Guisande no séc. XIX

Nascimentos em Guisande (de 1844 a 1859). 

Os números a seguir, correspondentes a pouco mais que uma década, revelam que, ao contrário do que era habitual, os rapazes foram nascendo em maior número que as raparigas. Nota-se também que não houve uma tendência de crescimento pois em 1844 nasceram 19 crianças e dez anos depois apenas 14. Pelo meio, em 1855, apenas 10. 

Importa referir que estes números até são percentualmente  interessantes pois por esses anos a nossa freguesia tinha à volta de 500 habitantes residentes. Em 1864 tinha 529, em 1878, 456 e em 1900, ao virar para o século XX, tinha 550 moradores. Só em 1960 é que ultrapassou o milhar de habitantes residentes.

Convém referir que por estes tempos, apesar de algumas mudanças com o liberalismo, os cuidados médicos e de saúde eram escassos ou mesmo inexistentes e as doenças estavam sempre presentes. Muitos bebés, como as mães, morriam durante o parto.

Apesar disso a freguesia foi crescendo em população e passado um século, pelas décadas de 1950 e 1960, os nascimentos na freguesia já andavam anualmente pelas três dezenas ou mais. Claro que depois, a partir da década de 1990, começou uma redução da natalidade e na actualidade os nascimentos são em escasso número não chegando sequer a atingir meia dúzia por ano. Talvez nem metade disso. Por conseguinte a freguesia está a registar por década  uma efectiva perda de população, na ordem já próxima da centena.

1844

Rapazes: 10

Raparigas: 9

Total: 19

1845

Rapazes: 5

Raparigas: 8

Total: 13

1846

Rapazes: 9

Raparigas: 7

Total: 16

1847

Rapazes: 9

Raparigas: 8

Total: 17

1848

Rapazes: 9

Raparigas: 5

Total: 14

1849

Rapazes: 6

Raparigas: 5

Total: 11

1850

Rapazes: 9

Raparigas: 5

Total: 14

1851

Rapazes: 9

Raparigas: 9

Total: 18

1852

Rapazes: 9

Raparigas: 10

Total: 19

1853

Rapazes: 4

Raparigas: 7

Total: 11

1854

Rapazes: 8

Raparigas: 6

Total: 14

1855

Rapazes: 5

Raparigas: 5

Total: 10

1856

Rapazes: 4

Raparigas: 6

Total: 10

1857

Rapazes: 8

Raparigas: 6

Total: 14

1958

Rapazes: 4

Raparigas: 6

Total: 10

1959

Rapazes: 10

Raparigas: 7

Total: 17

1868:

Total: 12

O meu pai não foi o melhor do mundo



Ao contrário do que toda a gente parece dizer por aí, neste dia que é do pai, eu não tive o melhor pai do mundo. Também não o serei. Somos uns exagerados, e como animais sociais vamos uns atrás dos outros, tantas vezes a repetir os mesmos clichês, os mesmos lugares comuns e o convencional ou politicamente correcto. Pastamos da mesma erva.

Mas não, eu não tive o melhor pai do mundo e pela simples razão de que não conheço os outros pais do mundo, a ponto de comparar o meu a cada um deles. De resto, poderia ser uma tremenda injustiça para com pais que foram realmente exemplos extremos de amor que em tantos casos ao longo da História deram literalmente a vida pelos filhos e levaram uma vida de penas e dores para lhes dar pelo menos o direito ao pão.

Agora o que eu tive, foi um pai, e basta-me isso. Nem melhor nem pior que os demais. Diferente como devem ser todos os pais. Porventura até teve mais defeitos que virtudes e não terá sido o melhor exemplo do pai modelo e várias vezes se terá demitido dos seus deveres de pai e marido. Mas sei também que não sei quais os motivos que o limitaram na sua paternidade, as lutas íntimas que travou, os obstáculos que lhe surgiram, as injustiças que lhe fizeram, nem quais os pecados que cometeu, se os confessou e se Deus o perdoou. 

Tenho do meu pai a imagem nítida de uma boa pessoa, honesta, inteligente e simples, até a ponto de ser enganado, roubado mesmo por outros mais "espertos", e basta-me que tenha sido apenas isso para ter a certeza que foi um bom pai e não o trocava por outro.

Um bom pai não é o que dá ao filho uma moto quando faz 18 anos, um carro novo, um relógio de marca, um computador da Apple, umas férias à grande e à francesa, casamento pago em quinta de luxo, lua-de-mel oferecida num qualquer paraíso terreno, chave na mão de um bom apartamento ou de uma moradia luminosa. Essse tipo de pai existe mas não vale nada, porque limita-se a dar o que pode dar, mesmo que a negar ao filho o valor da responsabilidade e a omitir a mensagem de que as coisas boas da vida devem ser conseguidas com mérito e suor próprios.

Se o meu pai nada me deu de material, porque não o podia fazer, e por isso tive eu que ganhar para comprar a minha primeira bicicleta, a minha motorizada, o meu carro velho, pagar o casamento, comprar terreno e nele construir casa, todavia, deu-me e transmitiu-me outros valores que tenho-os em maior conta que tudo o resto. Esses valores são imensuráveis e difíceis de descrever porque tantas vezes surgiram do nada, de pequenas centelhas que só mais tarde, já adulto, maduro e também na condição de pai, consegui decifrar.

Tive pois, um pai, simples como tantos outros, com defeitos e virtudes postas nos pratos da balança, ora a pender para um lado, ora para outro, porque o equilíbrio na vida é sempre uma labuta diária, constante. Basta-me isso!

Já partiu o meu pai, é certo, mas tenho-o presente quase diariamente nas minhas orações. Fico contente que toda a gente tenha o melhor pai do mundo. Eu também poderia alinhar e cantar em coro e afinado a mesma cantiga, mas, sem inveja de quem tem o melhor pai do mundo, fico-me pela simplicidade do meu.

Centenário da D. Celeste Guedes.

A propósito da partilha que ontem fiz no Facebook sobre o 100.º aniversário da D. Celeste Guedes, da Leira, confesso que esperava uma  maior expressão em  quantidade, tal é a importância da data, naturalmente que sobretudo para ela e para os familiares, mas tenho para mim que estas coisas também nos dizem respeito enquanto comunidade. Afinal é pessoa mais velha de todos nós.

Infelizmente, e concretamente pelas redes sociais, temos tendência a valorizar e a expressar contentamento com banalidades, boçalidades, coisas sem interesse algum ou de relativa importância, mas quando certas coisas têm algum sumo a que valeria a pena transmitir uma expressão de simpatia, passamos ao lado com indiferença.

É o que é, e não importa dramatizar mais do que isto, mas isto diz-nos que de facto há coisas que sobre as quais não importa ter grandes expectativas. Afinal as redes sociais são um reflexo, uma amostra da sociedade e da vida real. 

Apesar disso, a publicação aqui neste espaço com a simples referência à data e ao acontecimento, o que procuro fazer sempre que entendo que se justifica, teve quase meio milhar de visitas, o que é relevante. Mas que no Facebook esperava mais, esperava. Não por mim, obviamente, mas pela pessoa em questão e pelo tão bonito marco de vida.

Mas, é a vida!

18 de março de 2024

Nossa Senhora da Conceição como madrinha de baptismo


Nos velhos assentos paroquiais há sempre coisas interessantes ou curiosas a descobrir. Por exemplo, neste assento de baptismo de Custódia, filha de Custódio António de Pinho e de Joaquina Maria Baptista de Jesus, da Casa da Quintão, do lugar do Outeiro, nascida a 19 de Setembro de 1870, para além de outras informações, ficou-se a saber que teve como padrinho Manuel António de Pinho, avô paterno da baptizada,  e como madrinha, nem mais nem menos que Nossa Senhora da Conceição, sendo tocada com a sua coroa segurada por um João Cando, jornaleiro.

Não deixa de ser inédita esta situação pois de centenas de assentos já analisados não detectei esta situação em outros baptismos.

Seria vulgar? Qual a legitimidade canónica de tal acto? Desconheço mas a investigar mas certamente que não será caso único.

Maria Celeste da Conceição Guedes - Mulher centenária



Maria Celeste da Conceição Guedes, nasceu no dia 18 de Março de 1924, no lugar da Leira da nossa freguesia de Guisande. Está pois, neste dia de hoje, de parabéns, porque a celebrar o seu 100.º aniversário, no que certamente é um motivo de alegria para ela própria, para as filhas e todos os seus familiares..

A Maria Celeste é filha de António Augusto Guedes e de Maria da Conceição, da Casa do Ferreiro, da Leira.

É neta paterna de Manuel Augusto Guedes e de Rosa Gomes da Silva.

É neta materna de Bernardino Caetano de Azevedo e de Clemência Rosa.

Teve como padrinho de baptismo o seu tio paterno Pe. Delfim Augusto Guedes, o qual paroquiou S. Vicente de Louredo, Santa Eulália de Sanguedo e Santo André de Escariz, em cujo cemitério local está sepultado.

A Maria Celeste casou em 17 de Agosto de 1946 com Manuel Fernandes Coelho, falecido em 20 de Março de 1973 quando tinha apenas 50 anos de idade.

Tiveram várias filhas, de que me recordo a Odete, a Conceição, a Deolinda, a Rosa (com quem cheguei a trabalhar), a Jerónima, a Manuela e a Celeste. Não sendo caso único, é, todavia, e de algum modo, pouco vulgar um número tão grande (sete) de apenas raparigas.

100 anos representam uma longa vida que faz dela a mulher e mesmo a pessoa mais velha da nossa freguesia, já que o homem que até há pouco detinha o estatuto do mais velho, o meu tio Neca Almeida, do Viso, faleceu em meados de Fevereiro depois de ter celebrado o centenário em Outubro passado.

A Maria Celeste tem ainda a sua irmã Palmira, no lugar da Gândara, também ainda viva e a caminho do centenário, que dizem estar bem de saúde apesar de cega há já vários anos. Que Deus também a conserve se for essa a Sua vontade.

Por tudo, pela sua longa vida e família que constituiu e criou, apesar de ter perdido o marido muito cedo, é uma graça e benção de Deus. Para além da generosa idade, dizem que ainda tem uma relativa mobilidade e com lucidez bastante para fazer o seu dia-a-dia, mesmo que com as naturais limitações. É de facto uma benção para ela, para as filhas e família, bem como também para a nossa comunidade, que assim também deve rejubilar-se, agradecer a Deus e sentir orgulho por ver uma das suas pessoas a atingir este marco e este exemplo de vida.

Que Deus a conserve pelos anos que ainda quiser! Bem haja e parabéns!

16 de março de 2024

O "rapa orelhas"

Há dias confidenciou-me o Ti  Manuel do Mouco, sem qualquer assomo de cristandade e sem dar crédito ao ensinamento evangélico da necessidade de perdoar 70 vezes 7,  que se houver juízo e sentido de justiça no Além, deve estar a arder nas labaredas do inferno, desde há cinquenta e tal anos, a besta quadrada que a ele e a outros mártires ensinou a ler, a escrever e a fazer contas na pobre e única escola da aldeia. Era o professor o terror da criançada e era entre ela conhecido como o "rapa orelhas",  já que com a negra cana de bambu, colhida do canteiro que mantinha na horta só para o abastecer desse apetrecho disciplinador, lhes ceifava sem dó nem piedade as orelhas ou o que restava delas. E daí, quem se surpreende por alguns dos nossos mais velhos apresentarem-se com orelhas caídas como perdigueiros ou calejadas?

Mesmo que não quisesse dar crédito ao azedume ou mesmo ódio do Ti Manuel ao "rapa orelhas", devia ter sido mesmo verdade a ter em conta outros iguais testemunhos de quem teve tão duras lições nessa velha escola. Eram as orelhas, eram as mãos, a cabeça e tudo quanto fosse carne e osso a merecerem os impiedosos castigos do irado professor, com tareias acompanhadas de "elogios" que mais pareciam uma lista de todos os animais domésticos e selvagens, desde o burro e porco ao urso e ao camelo. Até nessa lengalenga era uma lição de fauna a que aqueles pobres coitados aprendiam de cor e salteado de tanto ser repetida.

As crianças faziam de tudo para fugir à escola, como fingir que estavam doentes, chegando mesmo a ferir-se e a emborcar azeite para ficarem de caganeira, mas em regra pouco compaixão encontravam nos pais que não raras vezes aos castigos do professor somavam outras tantas tareias em casa. Por isso queixas era melhor não as fazer quanto mais queixinhas.

Tempos duros esses, com exageros. Nem todos os professores eram assim, mas em boa verdade, quase todos. Deviam ter em comum a disciplina de como bem arriar na canalha.  Hoje em dia os absurdos são outros e o barco deu uma volta de 180 graus e são agora os alunos a pôr em sentido os professores e se preciso for vão lá alguns dos pais acrescentar a disciplina a quem a devia administrar.

Estará, pois, a arder, desde há mais de meio século o professor franzino mas de mãos e braços duros e implacáveis na arte de ensinar á moda antiga e de como matar piolhos à canada e por sentença do Ti Manuel do Mouco continuará a arder por mais uns séculos. Mas haverá  mesmo inferno? Chegou a arrepender-se? Ou, em vez de estar a arder nas labaredas alimentadas a enxofre e alcatrão anda por lá a pôr o diabo em sentido e também a castigá-lo nas orelhas e nos chifres?. É que sempre ouvi dizer que certas pessoas são tão más que nem o diabo consegue lidar com elas.

Partiu o Chico

O meu gato, de que aqui há poucos dias dei conta de não aparecer em casa, como lhe  era habitual, encontrei-o hoje, morto, na valeta, com todos os sinais de ter sido envenenado.

Não longe de casa. Naturalmente não sei quem para isso contribuiu, nem quero saber, porque a quem foi não lhe perdoarei. Não é próprio de cristão, mas por ora, com este sentimento de alguma raiva e frustração por ver um animal tão bonito e delicado, com menos de dois anos de vida, resgatado à nascença de uma morte certa por abandono da mãe, morrer assim, custa e dói.

Mas é assim a vida dos animais e dos gatos e o preço de ser livre tem custos, como este. Ainda há dias, já na procura, por indicação de alguém, a que volto a agradecer, ali no lugar de Azevedo no limite com Guisande, também um outro gato morto, parecido nas cores, mas que não era o meu.

Já está sepultado o Chico, ao lado de outros, da Chica, da Lira e do Pança, à sombra da laranjeira e de touças de cidreira e loureiro.

Preferia que estivesse vivo, mesmo que roubado por alguém, mas a morte por vezes é retemperadora porque mesmo que dolorosa encerra a dor maior que é a angústia e a dúvida sobre alguém que não sabemos onde pára, onde está, com quem, se morreu e em que circunstância. Isto para um animal de estimação, mas obviamente que com todo o sentido sobre uma pessoa, e por isso percebe-se a angústia de um pai ou uma mãe que vê um filho ou filha desaparecer sem lhe saber o rasto e destino.

Já descansa o Chico, em paz. Não teve sete vidas como dizem que têm os gatos, e a que teve foi curta mas feliz. Podia durar, pois podia, mas o seu instinto de gato queria andar por fora e ser livre. Foi-o!

O meu agradecimento aos poucos que no Facebook se preocuparam com o assunto e partilharam. Bem hajam! A maioria já não liga a estas coisas e apenas as boçalidades e banalidades têm eco. É o que é e de uma laranjeira não se pode esperar que produza azeitonas.