9 de abril de 2025

Confraria e Irmandade de Nossa Senhora do Rosário - Um olhar, uma opinião

 


Não tenho a certeza de estar inscrito na Confraria/Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, secular instituição da nossa paróquia, fundada por volta de 1733, com estatutos aprovados a 2 de Setembro de 1734, pelo então pároco, o Abade Manuel de Carvalho, com a devida autorização eclesiástica e da Ordem de S. Domingos (Dominicanos).

Essa incerteza deve-se ao simples facto de não possuir qualquer documento comprovativo da minha inscrição, e à própria instituição não se mostrar capaz de realizar a necessária pesquisa nos livros de assentos dos irmãos e confrades, alegando não ter em sua posse tais registos antigos.

Desconhecendo-se quem actualmente detém esses livros — ou mesmo se eles ainda existem desde a data da fundação —, torna-se efectivamente complicado, senão impossível, confirmar essa condição.

Se esta dúvida já não se coloca para os que infelizmente já faleceram, ela poderá ser muito relevante para os que ainda estão vivos e, como eu, não sabem ao certo se pertencem à Irmandade.

É certo que esta é uma instituição secular, ainda em actividade, e como tal, um património imaterial de valor significativo para a história e cultura da nossa paróquia e freguesia. Contudo, e em rigor, há já muitas dezenas de anos que não funciona como uma verdadeira associação.

Uma associação moderna rege-se por um conjunto de estatutos actualizados, que regulam os diversos aspectos da sua actividade. Tem sócios com direitos e deveres, realiza eleições periódicas, e os corpos gerentes são eleitos democraticamente pelos próprios associados.

Ora, a Confraria e Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, ainda sem estatutos revistos e com os originais há muito ultrapassados pelas mudanças dos tempos, vai funcionando, mas não exactamente como uma associação, desde logo porque não realiza eleições regulares.

Assim, num modelo organizativo que remonta ao tempo do Pe. Francisco Gomes de Oliveira, a gestão e controlo da actividade têm estado nas mãos de um reduzido número de pessoas, que, dentro das suas possibilidades, vão fazendo o melhor que podem e sabem.

Não tendo a certeza de ser irmão ou confrade, e não tendo portanto qualquer interesse directo na questão, parece-me, no entanto, que seria importante actualizar e valorizar esta instituição que caminha para o seu terceiro centenário — a celebrar dentro de oito anos. Seria desejável que, até essa data, a Irmandade estivesse devidamente regulamentada por estatutos adequados, em conformidade com as normas da Igreja e com a lei civil.

Além disso, e tendo sempre achado a sua orgânica bastante reservada, constato que várias regras — ou tradições — se têm vindo a perder ou a degradar. Por exemplo: no tempo do Pe. Francisco, era prática que, nas missas mensais ou na anual em que se sorteavam os terços, apenas os próprios, se presentes, podiam indicar a presença, ou, na sua ausência, familiares próximos como pais, irmãos ou avós. Nos últimos anos, porém, tem-se dado voz a familiares mais afastados, como primos ou tios, e até a vizinhos ou amigos. Ou seja, sem regras claras, têm surgido abusos que desvirtuam tradições antigas.

Na ausência de normas, é natural que se verifiquem estas situações de desregulação.

Ainda recentemente assisti à atribuição de um terço a uma pessoa já falecida — algo que, dantes, não era permitido. Sempre que saía o nome de alguém falecido no sorteio, o papel era anulado e rezava-se uma oração pela alma da pessoa em causa.

Neste caso, admito que quem reclamou o terço o tenha feito por desconhecimento dessa regra. Daí que me pareça adequado que, no momento da entrega do terço, perante dúvidas, se peça a quem o recebe que indique qual a sua relação com o sorteado e se este se encontra vivo ou já falecido.

Não aplicando este procedimento, continuarão a verificar-se situações semelhantes — acredito que não por má-fé, mas simplesmente por algum facilitismo e porque a ausência de regras as permite.

Sem qualquer pretensão de estar a ensinar o Pai-Nosso ao vigário, ou a fazer refogado à cozinheira, julgo que ninguém terá razões objectivas para discordar destes princípios.

Mas, como tenho reiterado, não tenho a certeza de ser irmão ou confrade, e ninguém o sabe confirmar. A minha opinião surge apenas como contributo construtivo, sem qualquer crítica pessoal, mas com intenção de orientação e valorização de uma instituição que é, sem dúvida, parte viva da nossa memória colectiva.

Finalmente como esclarecimento, no momento actual a inscrição de um irmão e confrade custa  25 euros e acrescido de 5 euros por cada ano acima de um ano de idade e uma anuidade também de 5 euros. Para quem quiser remir, isto é, não ficar sujeito ao pagamento de anuidades, tem o custo de 45,00 euros, no que é vantajoso sobretudo para baixas idades. Até me parece um valor baixo e desproporcional ao valor de pago de forma anual. Mas, como disse, de acordo com informações colhidas, são estes os valores praticados à data.

Quanto aos direitos dos irmãos e confrades vivos e defuntos, têm sido alterados ao longo destes quase três séculos, mas ainda assim com direito a um bom número de missas depois de falecidos para além de uma missa mensal e uma anual, por vivos e defuntos. aquando da festa, pelo primeiro Domingo de Outubro. Mesmo assim, as despesas têm sido superiores às receitas e a sustentabilidade da instituição, dependendo apenas de receitas próprias decorrentes das inscrições e anuidades, a prazo será posta em causa, pelo que antes que isso aconteça terão que ser encontrados equilíbrios e medidas adequadas.

8 de abril de 2025

Fonte, lavadouro e presa de Cimo de Vila


Muitas das minhas memórias de infância ainda vagueiam por ali, pelo alto de Cimo de Vila. Naquela fonte bebi muitas vezes. No lavadouro, fecho os olhos e ainda ali vejo e ouço a tagarelar muitas das mulheres do lugar às voltas com o lavar da roupa, esfregando-a repetidamente na pedra de granito, depois de boas ensaboadelas. Nesses tempos as roupas sujavam-se do suor de cada dia, do pó da terra e do estrume dos aidos e currais, do trabalho sujo e duro. Hoje, mesmo que já poucos se sujem com o trabalho, e como são dignos os que o fazem, veste-se uma roupinha de manhã e outra à tarde. Ao fim de meia dúzia de vezes, vai para o lixo e se encaminhada para os bancos sociais poucos a aproveitam.

A roupa rompia-se dessa labuta diária e das esfregadelas pelas mãos calejadas das mulheres, mas só quando já não seguravam os remendos, as joelheiras, cotoveleiras e quadras, é que terminavam a sua função e mesmo assim ainda davam para trapos que depois de cortados em tiras eram enviados em novelos para as tecedeiras fazerem tapetes para a casa e liteiros para as camas.

Não surpreende, por isso, que do lavadouro de Cimo de Vila, sempre que por lá passe, ainda sinta o aroma de sabão e água fresca nas manhãs de segunda-feira, onde acompanhava a minha bisavó.

Por sua vez, da presa, tantas vezes acompanhava a água acabada de ser libertada pelo boeiro aberto, seguindo o rego que ladeava a parte baixa do lugar e ía regar campos pelos lugares das Quintães e do Viso. Havia tempo para fazer barquinhos de casca de pinheiro e rodízios de bogalhos.

Da água que chegava à fonte em torrente generosa, vinda da nascente do alto de Centes, o progresso aniquilou-a, aquando da construção da Auto Estrada, e, que se saiba, sem qualquer compensação. Numa solução espertalhona, desviaram para ali parte da água que vem do Monte de Mó e que também cai na fonte do Monte do Viso. Chega para todos, no Inverno, mas minguada no Verão tardio e a ter que ser dividida com parcimónia. Fossem muitos os necessitados e haveria lutas e disputas de enchadas e varapaus no ar. Mas não, anda tudo manso e acomodado aos confortos.

É certo que estes equipamentos, outrora indispensáveis às comunidades, hoje em dia andam pelas ruas da amargura ou mesmo numa via sacra, esquecidos, desmazelados e até vandalizados e são já poucos os moradores que a eles recorrem. Pela década de 1980 fizeram uns mamarrachos de betão, sem conta nem medida, sem estética nem coisa que o valha, que em nada ajudaram à mais valia do património colectivo.

Um destes dias, por lá passei e a Maria, uma das poucas utilizadores, queixou-se do estado da presa e a foto nao a desmente. Assoreada, já num misto de jardim, pântano, mato e até ninho de bicharada. Noutros tempos era valiosa porque boa regadora e vários dos consortes até pagaram para o ser. Claro que quando quando a origem da +agua da fonte e da presa foi destruída, ficaram a ver navios.

Coloca-se sempre a questão de até que ponto justifica-se gastar dinheiro público numa coisa que deixou de ter utilidade, nomeadamente por uma Junta de Freguesia, quando os próprios consortes a deixaram abandonada à sua pouca sorte, mas é um motivo de reflexão, porque há coisas que mesmo tendo perdido importância, continuam a ser marcos e testemunhas de vivência de uma comunidade, das suas raízes e identidade.

Com igual sorte da presa de Cimo de Vila, há várias outras, como a da Pereirada, a de Lamoso, estas perto de estradas, mas várias outras mais interiores, algumas quase destruídas, como a das Corgas, Sabugueiro, Monte de Mó, etc. Também os lavadouros, quase todos em má sorte, de Estôze ao Reguengo, de Cimo de Vila a Casaldaça. Alguns, como o das Quintães, ficaram pelo caminho de opções políticas discutíveis, e deles só resta a memória nos mais velhos e e nem sequer uma simples fotografia ficou como amostra.

Em suma, quando não formos capazes de valorizar certas coisas, por mais insignificantes que pareçam ser, estaremos a caminho da extinção, senão como raça, seguramente como comunidade. Já nem sequer há gente a reclamar abandonos, talvez porque o cansaço amolece ou porque o verdadeiro sentido era outro que não a genuinidade das causas e das coisas.

5 de abril de 2025

Processo em curso


A Assembleia da nossa União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, em cumprimento do previsto pela Lei N.º 25-A/2025 de 10 de Março, vai reunir em sessão extraordinária no dia 10 de Abril (quinta-feira) pelas 21:00 horas na sede da Junta, em Lobão.

Na ordem de trabalhos a constituição e tomada de posse da Comissão de Extinção da União de Freguesias.

Será quase no limite do prazo. Há uniões de freguesia que já trataram do assunto há semanas. Na linha do "não guardes para amanhã o que podes fazer hoje", o órgão deliberativo já poderia ter sido convocado de modo a aproveitar todo o tempo. 

Apesar disso, fui informado de que na nossa União, alguns dos aspectos inerentes ao processo da desagregação e partilha, já têm estado a ser discutidos e analisados, mesmo em coordenação com o município, por isso já a aproveitar o tempo. 

É um bom indicador e sentido de responsabilidade, o que se aplaude. 

Para além dos aspectos óbvios da partilha, de forma proporcional e justa, dos bens imóveis e móveis e quadro de pessoal, há ainda questões importantes que em rigor a Junta e a própria Câmara Municipal ainda não sabem como vão ser solucionados, nomeadamente os que se prendem com as verbas previstas no orçamento da Câmara, já que pela Lei as novas freguesias só são formalizadas após a tomada de posse dos órgãos eleitos nas próximas eleições autárquicas, previstas para Outubro próximo.

Pessoalmente, do que li e interpretei, de facto a Lei parece-me muito vaga em relação a vários pontos, porque não define as regras nem estabelece excepções ou regimes de transição para muitos dos aspectos inerentes à desagregação.

Não obstante, acredito que mesmo com as ainda muitas dúvidas, serão encontradas soluções porque, chegados qui, o processo não pode parar.

Faço votos e desejo que tanto a formação da Comissão como depois todo o processo de partilha e transição seja cordial, construtivo e com sentido de responsabilidade de todas as partes, até porque importa a todas as freguesias, manterem um saudável espírito de boa vizinhança e cooperação, mesmo em eventuais eventos de interesse comum.

Posto isto, mãos à obra e vamos confiar em quem vai tomar parte no processo.

4 de abril de 2025

Festa de Pigeiros - Logotipo

 


Elaborei para a Festa de Pigeiros o logotipo. Naturalmente com satisfação por ficar associado a uma festividade com tanta tradição.

Adoptei um grafismo estilizado, em tom monocromático de modo a poder ser utilizado em diferentes suportes. Num elemento de elipse, representa-se a fachada da igreja ladeada de um elemento orgânico, com três pardais sobre um ramo interligado à moldura. 

Para os que não conhecem a ligação aos pardais, a origem é antiga e por isso a festa de Pigeiros era conhecida por Festa dos Pardais ou da Pardalada. 

Essa popular designação caíu em desuso, mas  pretendem os pigeirenses assumir e valorizar essa imagem como parte da identidade popular da festa da freguesia. O logotipo pode ser usado em edições seguintes bastando actualizar a referência ao ano.

A primeira referência escrita à Festa dos Pardais, encontrei-a nas memórias paroquiais de 1758, uma espécie de inquérito a todas as paróquias portuguesas, mandado fazer pelo Marquês de Pombal, a que todos os párocos foram obrigados a responder, e que com isso se pretendia uma caracterização geográfica, natural e patrimonial de cada paróquia. O então pároco de Pigeiros, o Abade João Carlos da Rocha Tavares, ao descrever a igreja, os altares e os santos existentes, referiu que existia ali a imagem de Nossa Senhora dos Remédios,  “imagem milagrosa cognominada de Senhora dos Pardais”, que na tradição popular atendia as preces para afugentar os pardais dos campos e das sementeiras, que por esses tempos eram numerosos e que grandes prejuízos causavam aos lavradores.

Fica, pois, a explicação e a razão de associar no logotipo essa imagem desses pássaros tão comuns na nossa região.

Pessoalmente acho que é de enaltecer a valorização desta imagem porque d efacto é uma forma de respeitar a cultura e tradição de uma comunidade e de um povo.

31 de março de 2025

A dar à sola - Por terras onde o Vouga abraça o Paiva


Excelente companhia, da melhor, percurso fantástico, deslumbrante, num dia de sol mas com vento gélido a soprar matreiro do lado da Estrela. Comida e bebida quase à fartazana mas, decididamente, não é chinela para o meu pé o pagar para ir correr ou caminhar em multidão. Prefiro mil vezes antes fazê-lo sozinho, ou com três ou quatro amigos, eu os meus pensamentos e a minha máquina de fotografar, do que andar pelo meio do rebanho a entupir os caminhos. Foram 45 minutos para fazer um kilómetro que sozinho demoraria 9 minutos? Nem de gatas. 
Mas, cada qual, cada qual, e cada burro com a sua mania e sempre haverá gostos para tudo e todos.  Para amostra, esta chegou. Valeu a companhia e a paisagem!







28 de março de 2025

Nota de falecimento - Maria Celeste da Conceição Guedes

 


Faleceu Maria Celeste da Conceição Guedes, do lugar da Leira. Ainda no último dia 18 deste mês de Março completou 101 anos de idade. Um vida longa mas Deus chamou-a agora à Sua presença.

Maria Celeste da Conceição Guedes, nasceu no dia 18 de Março de 1924.

A Maria Celeste era filha de António Augusto Guedes e de Maria da Conceição, da Casa do Ferreiro, da Leira.

Era neta paterna de Manuel Augusto Guedes e de Rosa Gomes da Silva e materna de Bernardino Caetano de Azevedo e de Clemência Rosa.

Teve como padrinho de baptismo o seu tio paterno Pe. Delfim Augusto Guedes, o qual paroquiou S. Vicente de Louredo, Santa Eulália de Sanguedo e Santo André de Escariz, em cujo cemitério local está sepultado.

A Maria Celeste casou em 17 de Agosto de 1946 com Manuel Fernandes Coelho, falecido em 20 de Março de 1973 quando tinha apenas 50 anos de idade.

O funeral será no próximo Domingo, 30 de Março, pelas 11:00 horas, na igreja matriz de Guisande, indo no final a sepultar no cemitério local.

Missa de 7.º Dia na Sexta-Feira pelas 18:30 horas na igreja matriz de Guisande.

Sentidos sentimentos a todos os familiares, de modo particular às suas filhas, genros, noras e netos bem como à sua irmã Palmira, do lugar da Gânadara, esta também a caminho do centenário de vida.

Deus a guarde na sua companhia e descanse eternamente em paz!